Confrontado com uma enorme dívida a Pequim, o Governo de Denis Sassou Nguesso, segundo a agência de notícias francesa AFP, optou por se refugiar no Fundo Monetário Internacional (FMI) para se proteger de um incumprimento quanto à dívida que tem com a China, que é superior a 1/3 do total dos compromissos da República do Congo.

Face a esta situação, que pode, se Brazzaville assinar efectivamente um acordo com o FMI, configurar a primeira grande contrariedade do gigante asiático em África, segundo a AFP, a China já fez chegar ao Governo congolês a informação de que não gostou nada de saber desta iniciativa.

Isto, depois de a China ver as potencias ocidentais, como a França, a Alemanha, ou ainda os EUA e a Rússia a fazerem um esforço suplementar nos últimos anos para contrariar a sua crescente influência no continente.

A China está há décadas a ser o grande motor das economias africanas, com destaque para a sul-africana, a angolana ou ainda a dos Congos, Democrático e Brazzaville, através de enormes fluxos de dinheiro garantido em larga medida pelos recursos naturais desses países, como é o caso de Angola, que tem no petróleo o garante do pagamento de uma dívida que segundo o ministro das Finanças, Archer Magueira, ultrapassa os 23 mil milhões de USD.

Essa realidade levou, com especial enfoque nos últimos três anos, a uma contra-ofensiva de países como os Estados Unidos, cuja Administração Trump não se tem cansado de chamar a atenção para os perigos que os países africanos enfrentam de poderem ficar nas mãos de Pequim devido a esses mesmos empréstimos.

Ao mesmo tempo, Washington esforça-se por cobrir algumas das necessidades de financiamento dos países africanos, nomeadamente através de instrumentos de cooperação como o AGOA, que é um pacote legislativo aprovado pelo Congresso norte-americano para dar assistência financeira aos países da África subsaariana e consolidar as relações económicas destes países com os EUA.

Para contrariar estas respostas ocidentais, Pequim tem feito, no mesmo período, repetidos avisos de que a sua política para com o continente africano é de "pura amizade", com o objectivo de serem alcançados "benefícios mútuos" e sem "interferências" nas políticas internas de cada um dos parceiros africanos.

Porém, como lembram alguns analistas, a China tem vindo a confrontar-se com problemas sérios com o incumprimento no pagamento de dívidas, como foi o caso gritante da Venezuela, mas também em África, tendo avançado para um modelo diferente de atribuição de fundos, exigindo mais garantias que aquelas que era colocadas em cima da mesa até aqui.

Angola foi já vítima destas novas medidas de Pequim porque os montantes disponibilizados têm vindo a diminuir e numa das últimas idas do Presidente João Lourenço à China, o objectivo de obter empréstimos no valor de 11 mil milhões USD ficou muito aquém desse montante.

Mas a questão de Brazzaville assume especial importância porquanto o país foi um dos que beneficiou de uma forte redução da sua dívida, em 2005, ao abrigo das medidas destinadas aos países altamente endividados (HIPC, sigla em inglês).

Afectado profundamente pela crise da queda abrupta do preço do barril de petróleo em 2014, tal como Angola e os restantes países exportadores africanos, o Congo-Brazzaville entrou numa crise que levou a uma queda de 50% do seu PIB e a dívida para além dos 110% do Produto Interno Bruto em 2017, sendo uma parte de leão, mais de 2 mil milhões USD, à China.

Face a esta confrontação com o perigo real de incumprimento, o Governo de Denis Sassou Nguesso foi ter com o FMI, para obter a ajuda do fundo, largamente dominado pelos interesses norte-americanos, logo, contrários aos chineses em África.

O pedido foi feito mas ainda não foi assinado qualquer acordo, segundo conta o Africa News, também por pressão de Pequim mas essencialmente porque o FMI que exige um esforço de austeridade assinalável e um conjunto alargado de refomas, o que vai gerar, inevitavelmente, graves problemas sociais neste país vizinho de Angola.

Em causa está, ainda segundo as mesmas fontes, uma reestruturação da dívida, o que só é possível com um acordo nesse sentido com Pequim, de forma a que a porta seja aberta para a assistência do FMI.

Este tipo de acordos, de reetruturação de dívidas, não é comum com a China.