Na parada militar para marcar e celebrar o 70º aniversário da fundação da República Popular da China (RPC), que hoje atravessa a Praça Tiananmen, em Pequim, o Governo de Xi Jinping escolheu para simbolizar a sua ascensão definitiva aos céus das grandes potências militares - das económicas já é há muito tempo um ilustre membro -, a exposição de dois revolucionários mísseis balísticos, o DF-17, hipersónico, e o DF-41 (na foto), com capacidade para levar 10 ogivas nucleares até aos EUA em apenas 30 minutos.

Mas, em Hong Kong, a jóia económica e financeira da "coroa" chinesa, é com pedras e chapéus de chuva que milhares de jovens enfrentam as forças policiais equipadas com tanques e armamento antimotim pesado, retirando o brilho que o Governo de Pequim tanto queria que fosse apresentado imaculado no dia em que se comemora a passagem de setenta anos deste que Mao Zedong - ou Mao Tse Tung - anunciou, em 1949, o início da República Popular da China, por entre escombros de guerras sucessivas e invasões japonesas que deixaram um rasto de dezenas de milhões de mortos.

Por detrás dos protestos em Hong Kong, que já duram à meses, desde que o governo local tentou fazer aprovar legislação que deveria permitir a extradição de cidadãos do território para serem julgados no continente.

A generalidade dos manifestantes, citados pelas agências, afirmam que a sua luta é para garantir que não vão perder os seus direitos e a sua liberdade, custe o que custar.

Hong Kong é desde 1997, quando deixou de pertencer ao Reino Unido, um território autónomo que goza de privilégios democráticos inexistentes no resto do país, excepto Macau, embora aqui menos acentuados, e é esse estatuto distinto que o Movimento Pró-Democracia quer garantir, pelo menos até 2047, quando terminam os 50 anos negociados por Londres durante o processo de transição de Hong Kong para a China.

Numa altura em que Pequim parece ter perdido espaço de manobra em Hong Kong para travar os milhares que diariamente ocupam as ruas do território - em alguns desses dias foram mais de 1,5 milhões -, pelo menos sem recurso à força bruta, o Presidente Xi Jinping fez declarações apaziguadoras, prometendo cumprir com o estatuto de exclusividade no território, salvaguardando o compromisso de conteúdo democrático que saiu do processo de regresso de Hong Kong ao mapa chines.

O contraste com o que se passa hoje em Pequim não poderia ser maior, onde o aprumo militar, o brilho das novas e poderosas armas do arsenal nuclear e convencional chinês e a afirmação económica da grande China, estão a disputar espaço das primeiras páginas de jornais em todo o mundo com o fumo e o gás das granadas da polícia e com os canhões de água da polícia a dispararem contra manifestantes mascarados a correr esbaforidos à sua frente, procurando não se deixar atingir pela água colorida de azul com a qual, mais tarde, serão identificados nas rusgas constantes das forças de segurança.