Viaturas destruídas, focos de incêndio em vários locais da cidade e pelo menos três mortos entre os manifestantes é o balanço provisório dos protestos de quarta-feira encabeçados por apoiantes de Nelson Chamisa, candidato do maior e histórico partido da oposição zimbabueana, o MDC-T.

Hoje, segundo relatam as agências, Harare vive uma calma tensa e muitas lojas da cidade estão fechadas, temendo-se que, com os aguardados resultados referentes à eleição presidencial, a violência possa ressurgir.

De acordo com os resultados, ainda provisórios porque os oficiais só deverão ser divulgados no fim-de-semana, a ZANU-PF, que governa o país desde a sua independência, em 1980, obteve 144 lugares no Parlamento, enquanto o MDC-T ficou pelos 61, num total de 210 assentos.

Com dois terços dos lugares no Parlamento, a ZANU-PF tem a porta aberta para proceder a alterações constitucionais.

Quanto aos votos que vão definir quem será o próximo Presidente do Zimbabué, esses ainda não são conhecidos, embora, como é tradição no país, os votos obtidos para a eleição de deputados sejam semelhantes nas presidenciais.

Face a este cenário, que hoje se manteve, apesar do controlo apertado pelos militares da capital zimbabueana, começaram as trocas de acusações, com Mnangagwa, actual Presidente, lugar que assumiu após a queda de Robert Mugabe, em Novembro do ano passado, provocada por um golpe militar, a afirmar que o seu opositor, Nelson Chamisa, é o responsável pela violência e sublinhou que a intenção da oposição é "destruir o processo eleitoral".

O mesmo fez o ministro da Administração Interna, Obert Mpofu, que acusou, segundo a imprensa local, o MDC-T de ter aproveitado a presença dos observadores internacionais para provocar a "anarquia no país", o que levou à chamada da tropa para as ruas para a controlar.

Observadores esses que, perante o evoluir do caos, pediram à Comissão Eleitoral do Zimbabué (CEZ) para libertar os resultados das presidenciais o mais breve possível, porque qualquer atraso será combustível para ainda mais violência, maximizada depois de o Exército ter começado a disparar fogo real contra os manifestantes, acabando com três mortes e dezenas de feridos.

Por seu lado, o MDC-T, de Chamisa, veio, através de um porta-voz, dizer que o candidato da oposição ficou "chocado" com os acontecimentos trágicos e questionou a razão para a intervenção militar, perguntando, em declarações à imprensa: "Será que estamos em guerra?!".

Ao mesmo tempo, este responsável acusava directamente o Governo de Emmerson Mnagagwa de estar por detrás da "manipulação dos resultados", lembrando que os votos estão a ser contados sem que os observadores internacionais e os membros da oposição tenham acesso ao local de contagem.

Falam em urnas despejadas e voltadas a encher com votos "programados", em urnas desviadas, em compras directas de votos em zonas rurais, em manipulação directa dos resultados já conhecidos, que dão uma maioria absoluta à ZANU-PF no Parlamento.

No entanto, segundo fez saber Emmerson Mnangagwa através de uma publicação na rede social Twitter, decorrem conversas entre ele e Nelson Chamisa para encontrar uma forma de serenar os ânimos e evitar novas erupções de violência.

Prometeu uma investigação independente às causas das mortes de quarta-feira e prometeu, em tom de aviso, que, sendo o Zimbabué "a terra de todos nós", nela "navegaremos juntos ou juntos iremos ao fundo".

Quanto aos observadores internacionais, a SADC, cuja missão é liderada por Angola, considerou, antes da erupção da violência, que as eleições decorreram dentro da normalidade, que foram pacíficas e ordeiras, tendo contribuído para o fortalecimento da democracia no país.

A missão da União Europeia, por seu lado, apontou igualmente para a normalidade no decurso da votação, apesar de alguns constrangimentos, mas observou que os atrasos na divulgação dos resultados "contribuem seriamente para a descredibilização do acto eleitoral".