O Tribunal de Haia justificou a retirada das acusações e a decisão de libertar Gbagbo, de 73 anos, por não existir caso para que este, a par de, Charles Goudé, seu aliado e antigo lider de uma milícia, sejam acusados e julgados.

Gbagbo estava a ser acusado de assassinato, de ter ordenado violações e instigação à violência no pós-eleições de 2011, recusando-se a entregar o poder a Alassane Ouattara, que foi declarado vencedor, resultando daí a morte de mais de 3.000 pessoas na convulsão social que essa atitude gerou.

O ex-Presidente foi detido quando forças das Nações Unidas entraram no país e o foram buscar a um búnquer onde estava refugiado na companhia da sua mulher, Simone Gbagbo, e de algumas dezenas de correligionários.

De acordo com o TPI, na justificação para esta decisão, Gagbo não tinha quaisquer plano para se manter no poder e, face a essa constatação, resulta na ausência de razão para continuar com o processo.

Perante esta decisão dos juízes de Haia, Gbagbo deverá, mesmo assim, manter-se na prisão, porque a acusação deverá avançar com um recurso e utilizar as ferramentas jurídicas disponíveis para evitar a sua soltura imediata, até porque este era um dos casos onde o TPI mais apostava para servir de profilaxia a todos aqueles que cometem abusos de poder pelo mundo fora.

No rescaldo eleitoral de 2011, foram apontadas acusações de crimes a oficiais miliatres de um lado e do outro, tendo, também, sido condenados na justiça costa-marfinense vários oficiais próximos de Ouattara, embora este tenha, em 2018, feito publicar uma amnistia que devolveu à liberdade cerca de mil condenados, envolvendo elementos de um e do outro campo.

Esta decisão está a ser fortemente criticada por organismos internacionais de defesa dos Direitos Humanos, que, argumentam, retira quaisquer possibilidades de as vítimas da violência verem ser-lhes feita justiça.