Quando os EUA, liderando uma lista de países ocidentais, incluindo Alemanha, França e Reino Unido, e ainda Rússia e a China, assinaram com o Irão um acordo de não- proliferação nuclear, ainda no tempo de Obama, em troca pelo levantamento de sanções, o mundo respirou de alívio.

Mas foi sol de pouca dura. Assim que tomou posse, e mesmo antes, durante a campanha eleitoral, Trump voltou a apontar os "canhões" da sua retórica belicista para o Irão, surpreendendo tudo e todos, e, mesmo com a grave crise coreana nas mãos, não deixou de, na recente intervenção na Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque, voltar a criar faísca com Teerão, acusando este país, como costume, de apoiar o terrorismo internacional e ser gerido por criminosos e de rasgar o acordo assinado em 2015.

Na resposta, o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, com alguma ironia, disse que Trump é mentalmente desequilibrado, até porque todos os restantes países com mais influência no mundo, criticaram o discurso do Presidente norte-americano na ONU.... Excepto Israel.

Mas, saindo do palco da retórica, o Irão, depois de dizer que, face a este novo quadro, salientando o tom belicista e inamistoso de Trump, só lhe restava rearmar-se para se defender, anunciou hoje na sua TV estatal que tinha efectuado com sucesso um teste a um novo míssil balístico, com longo alcance e com capacidade para carregar múltiplas ogivas.

As imagens transmitidas provam o anúncio, tendo, desta feita, numa inovação, o Irão divulgado imagens captadas pelo próprio Khoramshahr, nome do nosso míssil, em voo.

À agência estatal iraniana, o chefe da Guarda d Revolução, elita das Forças Armadas iranianas, Amir Ali Hadjizadeh, disse que o nosso projéctil "pode transportar ogivas convencionais para atingir vários alvos".

Estas palavras surgem depois de o Presiidente iraniano ter assumido que só restava ao seu país reforçar as suas capacidades militares em matéria de dissuasão, porque o seu homólogo norte-americano é imprevisível.

"Quer queiram quer não, vamos reforçar as nossas capacidades militares, necessárias em termos de dissuasão. Vamos desenvolver os nossos mísseis e também as nossas forças aérea, terrestre e marítima. Para defender a nossa pátria não vamos pedir autorização a ninguém", avisou Rohani na TV estatal.

Rohani alicerça no conteúdo do acordo assinado em 2015 de não-proliferação nuclear esta iniciativa, visto que o documento aponta para restrições a mísseis com capacidade de transporte de ogivas nucleares e não convencionais, como garante ser o caso.

Este clima de tensão, mais um depois do que se passa com a Coreia do Norte, gerado pelas palavras de Trump, levou a que a Arábia Saudita e Israel, os "inimigos" principais do Irão, afirmar que se estava perante uma escalada perigosa e que não pode ficar sem resposta.

A Arábia Saudita, por exemplo, acaba de adquirir mais de mil milhões de dólares em equipamento militar sofisticado aos EUA.