A etnia Fula (Fulani) é, essencialmente composta por povos que se dedicam à pastorícia enquanto os Dogon são agricultores, por norma, e há séculos convivem pacificamente neste país imenso entre o norte de África e o Sahel. Este ataque teve lugar na região de Sangha.

Mas, nos últimos meses tudo tem mudado e os ataques a aldeias de uns e outros sucedem-se, como este que deixou um rasto de quase uma centena de mortos entre os Dogon, depois de há algumas semanas ter ocorrido um alegado ataque Dogon a uma aldeia Fula que provocou 150 mortos.

No entanto, as lideranças Dogon negaram a autoria desse trágico ataque, lançando ainda mais suspeitas, como tem sido admitido pelas autoridades de Bamako, de que, por detrás destes ataques podem estar jihadistas disfarçados de membros de tribos locais com o objectivo de lançar o caos no país para melhor ocupar o território.

Território esse que se tem revelado essencial como refúgio para vários grupos de radicais islâmicos perseguidos e derrotados que estão a ser no Iraque, Síria, ou mesmo na Somália.

Tanto o povo Dogon como Fula são povos islamizados mas de natureza histórica moderada, sendo que os Dogon têm uma história milenar de conhecimento em várias ciências, com destaque para a astronomia e matemática ímpares, sendo ainda os guardiães de documentos de importância extrema onde cada casa de família, em alguns locais, é uma bibliotéca sem igual em todo o mundo pelo valor dos escritos guardados.

A violência revelada nestes ataques tem sido muito superior às pequenas escaramuças que tradicionalmente estes grupos protagonizam e contrária à cultura de sã convivência histórica, como foi o caso em Março, onde 150 pessoas perderam a vida, e agora este, com pelo menos 95 mortos, aldeias destruídas pelo fogo e animais abatidos às centenas.

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres condenou veementemente este ataque e lançou um apelo para que as partes se abstenham de futuras retaliações como forma de parar estes banhos de sangue.

O Governo do Mali também já garantiu que estão a ser tomadas as providências de forma a garantir a segurança das populações.

Recorde-se que o Mali conta actualmente com a presença de centenas de militares de países europeus, cm destaque para a França, ao abrigo das Nações Unidas, com o objectivo de estancar a violência e impedir que os jihadistas assumam totalmente o controlo do imenso território maliano.