Michel Temer foi gravado por um industrial do sector das carnes a autorizar o pagamento de um suborno ao antigo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, actualmente preso por envolvimento no caso de corrupção da Petrobras, para que se mantenha calado. O chefe de Estado brasileiro negou qualquer envolvimento neste escândalo que está a assolar o Brasil.

"Ouvi, realmente, o relato de um empresário que por ter relações de um ex-deputado [Eduardo Cunha] auxiliava a família dele, mas não solicitei que isto acontecesse e só tive acesso a este facto nesta conversa", declarou.

"Em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado, não comprei o silêncio de ninguém por uma razão singela que não temo nenhuma delação [acordo de investigados com a Justiça em troca de redução da pena]", acrescentou.

O Presidente brasileiro defendeu que a investigação autorizada contra si pelo juiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) irá revelar "todas as explicações". E enfatizou: "No STF demonstrarei não ter nenhum envolvimento com estes factos".

Antes de afirmar que não iria renunciar, Michel Temer disse que o seu Governo viu nesta semana os melhores resultados do ano, lembrando a queda da inflação e números que mostravam o retorno do crescimento da economia brasileira.

Esta crise começou quando a notícia foi divulgada pelo jornal brasileiro O Globo e fez a ligação directa entre o Presidente brasileiro e a sucessão de escândalos de corrupção do universo Lava Jato, com algumas das maiores empresas brasileiras, como é o caso da Petrobras e da Odebrecht, no centro do terramoto judicial.

Segundo o diário, na gravação, Michel Temer também teria dito a Joesley Batista que o deputado Rodrigo Rocha Loures seria responsável por resolver uma pendência da J&F (holding que controla a JBS) junto ao Conselho Administrativo de Defesa Económica (Cade).

Depois desta indicação, Rocha Loures foi filmado pela polícia brasileira a receber uma mala com 500 mil reais (142 mil euros) que foi enviada pelo empresário Joesley Batista.

O deputado Rocha Loures é próximo do chefe de Estado brasileiro, pois foi chefe de Relações Institucionais da vice-Presidência quando Michel Temer ocupava este cargo.

O áudio citado também revelaria que Michel Temer supostamente adiantou ao dono da JBS que o Banco Central do país iria baixar os juros em 1%, facto que constituiria crime de divulgar informações privilegiadas.