A Guerra Fria, como ficou conhecida a situação de pré-confronto entre os EUA-NATO e o Pacto de Varsóvia - URSS (Rússia), pacto similar ao da NATO que juntava os antigos países comunistas do leste europeu, tem vindo a recuperar significado nos últimos anos devido ao intensificar das tensões entre Washington e Moscovo.

Durante esse período da Guerra Fria, apesar de nunca terem entrado em confronto directo, os EUA e a URSS alimentaram múltiplas guerras através do apoio a facções em conflito, como foi um dos mais importantes casos o que decorreu em Angola, entre 1975 e 2002, com Washington a apoiar - embora por períodos - a UNITA de Jonas Savimbi e, por outro, a URSS a apoiar as forças governamentais angolanas (MPLA).

De lembrar que ainda há cerca de um mês, a Rússia, em conjunto com a China, organizou o Vostok 2018, os seus maiores exercícios militares desde a Guerra Fria, que tiveram lugar no leste russo, junto à fronteira com a China, agudizando ainda mais os ânimos porquanto contou com a participação de meios militares chineses e quando se sabe que a China mantém um tenso braço-de-ferro com os Estados Unidos por causa da disputa territorial dos países situados no Mar do Sul da China e ainda no campo comercial.

Face a estes exercícios da NATO a decorrer na Noruega, com enormes deslocações de meios, humanos e militares, onde em aperfeiçoamento está a capacitação dos Aliados em responder a uma eventual invasão de um membro da Organização - a Noruega faz fronteira com a Rússia -, Moscovo respondeu de imediato com o anúncio de testes de mísseis no espaço marítimo controlado por si mas que confina com aquele onde evoluem as frotas da NATO envolvidas no Trident Juncture 18.

Este gigantesco exercício militar liderado pelos norte-americanos conta com 50 mil militares, 65 navios, cerca de 250 aviões, envolvendo 31 países, com o epicentro dos "combates" a ter lugar a escassas dezenas de quilómetros da fronteira entre a Noruega e a Rússia.

Moscovo não gostou deste aparato, alegando que, devido às suas características, só pode ter como finalidade, mostrar força contra a Rússia, acusaram as chefias militares, que, ao mesmo tempo, anunciaram o envio de uma força naval para a área do Atlântico Norte, como forma de monitorizar os movimentos "inimigos" e também testes com mísseis.

Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, norueguês, já veio a público procurar desdramatizar mas, ao mesmo tempo que dizia estar ciente da presença da armada russa na área do Trident Juncture, avisava Moscovo para se "comportar de forma profissional" para evitar acrescentos de tensão ao cenário actual.

Este exercício da NATO termina a 07 de Novembro, e decorre desde 25 de Outubro, enquanto os testes de mísseis russos vão ter lugar entre 01 e 03 de Novembro, altura em que as atenções vão estar focadas no que se vai passar naquela região do Atlântico Norte.

Isto, porque são cada vez mais os analistas a admitirem que o surgimento de uma nova Guerra Fria já não é uma possibilidade, é mesmo um facto, especialmente depois da anexação da Crimeia, região da Ucrânia, pela Rússia em 2014.

Desde essa altura que Moscovo e Washington têm evitado admitir a existência de tensões para além do normal, mas a verdade é que entretanto tiveram lugar os maiores exercícios militares de um lado e do outro em mais de quatro décadas.