A Fundação Bill & Melinda Gates enviou 10 milhões USD à FAO (Organização da ONU para a Agricultura e Alimentação) para ajudar no esforço em curso de combate à praga de gafanhotos-do-deserto que desde Dezembro destroem culturas agrícolas em vastas regiões da África Oriental, numa demonstração de que o mundo começa a temer que os enxames ganhem uma dimensão imparável e se expandam para o centro e sul de África.

Países como o Quénia, a Etiópia, a Somália foram as primeiras vítimas de um "monstro" que se desloca velozmente em enxames que podem chegar aos 150 milhões de insectos esfomeados que devoram as colheitas essenciais para a sobrevivência de populações inteiras delas dependentes em geografias já assoladas pela carência alimentar em larga escala devido a secas severas e prolongadas.

Mas, depois deste três países, seguiram-se o Uganda, o Burundi, o Sudão do Sul, a Eritreia ou o Djibuti, espalhando o terror entre milhões de pessoas que vêem o milho, o sorgo, trigo ou arroz plantados desaparecerem num abrir e fechar de... asas.

Esta praga surgiu em Dezembro na ponta mais oriental de África vinda dos desertos arábicos, onde chuvas anormalmente intensas criaram as condições para o surgimento de milhões de gafanhotos-do-deserto que, depois, se começaram a expandir em enxames gigantescos para o continente africano empurrados por ventos vindos de leste.

Enquanto em África, as organizações internacionais, com as da ONU no centro, procuram debelar esta praga com recurso à aplicação de insecticidas por via aérea, onde é aplicado parte das verbas doadas por Bill Gates, até ao momento com escasso sucesso porque os gafanhotos continuam a progredir, na Ásia, a China optou por uma técnica diferente e ambientalmente mais sustentável com eficácia comprovada pela experiência do passado.

Dezenas de milhares de patos alinhados ao longo das fronteiras onde começaram a chegar os enxames de gafanhotos, devoram os insectos à medida que estes aterram, porque estas aves têm estes insectos no cardápio da alimentação natural e neles vêm um petisco extra.

Os bandos de patos, como mostram imagens transmitidas pelas media chineses, caminham de forma ordeira pelas estradas que conduzem à região de Xinjiang, onde confluem as fronteiras com a Índia e o Paquistão.

Isto, depois de o Governo de Islamabad ter decretado o estado de emergência por causa dos gafanhotos oriundos de África, tendo o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, admitido que esta é a situação mais grave em muitas décadas no seu país resultante de pragas animais.

As autoridades ambientais chinesas, citadas pelos media nacionais, garantem que os exércitos de patos são seguramente mais eficazes no combate a esta invasão que os pesticidas porque estão sempre a atacar e deslocam-se à medida que os enxames de insectos se movem.

Entretanto, é ainda em África que o problema tem maiores proporções e a FAO admite mesmo que está em causa a segurança alimentar de 25 milhões de pessoas na África Oriental em países em que estas mesmas populações já estão a sofrer por causa de anos a fio de secas graves e prolongadas.

As agências da ONU têm feito pedidos insistentes de apoio financeiro à comunidade internacional para combater estas pragas que avançam em sucessivas vagas, com enxames que podem ir de um km2 a mais de 80 kms2, com mais de 80 milhões de gafanhotos-do-deserto adultos em cada um destes quilómetros quadrados (km2), deslocando-se mais de 140 quilómetros por dia, destruindo alimento suficiente para 35 mil pessoas a cada 24 horas.

E o cenário pode piorar se se confirmar, alertam os especialistas da ONU no terreno, que a chuva vai chegar em Março, gerando as condições ideais para que os biliões de ovos deixados por estes enxames se desenvolvam e tenham matéria vegetal verde e fresca para se alimentarem, gerando uma nova vaga gigantesca de insectos esfomeados e prontos a varrer tudo o que lhes aparecer à frente.

Recorde-se que nas regiões por onde evoluem os enxames, pelo menos uma pequena parte destes estão a servir de alimento às populações de algumas regiões em África e na Ásia, onde tradicionalmente os gafanhotos integram a dieta alimentar humana.