O programa de ajuda externa criado pelo seu antecessor, David Cameron, estabelecia um mínimo de 0,7 por cento do PIB britânico, que se aproximou, em 2017, dos 3 triliões de dólares, de ajuda externa, quase em exclusivo dedicado ao combate à pobreza.

No entanto, antes de iniciar esta inédita deslocação a África, com três das maiores economias do continente no mapa - África do Sul, Nigéria e Quénia -, a imprensa britânica divulgou declarações de Theresa May onde esta esclarece que não tocará no montante actual, mas sublinhando que vai querer redefinir os objectivos, deixando de se concentrar o investimento no combate à pobreza para ser também uma ferramenta que permita corresponder aos interesses nacionais e aos desafios globais perfilhados pelo Reino Unido.

"É sem qualquer constrangimento que digo que o nosso programa de ajuda funcione para o Reino Unido. Por isso, estou empenhada em garantir que os gastos com o apoio ao desenvolvimento não se confinem ao combate à pobreza extrema, mas que, ao mesmo tempo, enfrentemos os grandes desafios globais e suportemos os interesses nacionais", é o que May vai dizer neste circuito africano.

Como pano de fundo para esta nova estratégia, que poderá ser definida como o regresso de Londres a África, está a organização Commonwealth, que tem servido ao Reino Unido para manter os laços com o antigo império colonial.

A chefe do Governo de Londres acrescentará, neste périplo, aquilo já disse em Londres, e que é que essa nova forma de encarar o programa nacional de ajuda ao desenvolvimento, que atinge centenas de milhões de dólares, "vai garantir que esse investimento beneficiará todos e que está totalmente alinhado com as prioridades de segurança nacionais".

Por detrás deste novo posicionamento ensaiado por Theresa May está o desafio que vai ser a saída do Reino Unido da União Europeia, que vai exigir de Londres a procura de novos mercados e fronteiras para evitar efeitos nefastos na economia britânica e África é encarada como uma das melhores possibilidades para minimizar esses eventuais efeitos negativos do "Brexit".

Desde 2013 que um primeiro-ministro não fazia uma visita oficial a países a sul do Saara, sendo que a última vez foi, nesse ano, feita por David Cameron para assistir ao funeral de Nelson Mandela, na África do Sul.

Sob críticas na imprensa do seu país, Theresa May procura agora recuperar algum tempo perdido em África onde o Reino Unido deu cartas em tempos idos e que agora é uma sombra quando comparado com países como a China ou mesmo a França, no que toca à influência e negócios em curso.

Face às novas urgências surgidas com o "Brexit", May tem como meta fazer do Reino Unido o maior investidor em África do G7, grupo que agrega as sete maiores economias mundiais, até 2022.

Para já, com encontros agendados com os Presidentes sul-africano, Cyril Ramaphosa, hoje, em Pretória, com o Presidente queniano Uhuru Kennyatta, e com o nigeriano Muhammadu Buhar, a primeira-ministra britânica procura construir uma posição forte em África, visando fazer crescer a sua influência, claramente perdida nas últimas décadas para países como a China, em especial, mas também para a Índia, ou mesmo a França, que está a fazer o mesmo caminho de regresso a África por decisão do Presidente Emmanuel Macron.

As prioridades de Theresa May são as infra-estruturas, finanças e serviços, sem esquecer a formação militar, como acontece actualmente no Quénia, onde as Forças Armadas locais contam com uma forte componente britânica na área de formação.