Face a este avanço do vírus para a sua fronteira, o Governo de Kampala lançou um alerta geral para garantir que a epidemia não atravessa a fronteira, apesar de a área que agora está a ser afectada, Butembo, no Kivu Norte, ser altamente povoada e, por isso, mais difícil de conter a sua dispersão.

Esta é a 10ª epidemia de Ébola que a RDC vive desde que o vírus que provoca esta grave e de elevada mortalidade febre hemorrágica foi descoberto pela primeira vez em humanos, decorria o ano de 1979, na província do Equador, junto à fronteira entre o Congo-Democrático e o Congo-Brazzaville, nas proximidades do Rio Congo.

Desde 01 de Agosto, as unidades médicas e as equipas das agências da ONU - Organização Mundial de Saúde (OMS) e UNICEF, mas também os Médicos Sem Fronteiras (MSF) - que combatem a epidemia no terreno já registaram 92 mortos e quase uma centena e meia de diagnosticados com a febre hemorrágica, sendo já uma das mais graves desde que em 2013, na África Ocidental - Libéria e Serra Leoa - morreram mais de 11 mil pessoas com esta mesma doença.

Para piorar o cenário, o vírus está agora implantado numa área de intensa actividade militar e de guerrilhas/milícias, com milhares de deslocados e refugiados, nas proximidades do Parque Nacional de Virunga, no Kivu Norte, que atravessa a linha de fronteira com o Uganda, o que dificulta sobremaneira o trabalho das equipas que procuram conter esta mortífera patologia.

A par desta realidade, a cidade de Butembo, habitada por mais de 1 milhão de pessoas e onde foram descobertos os últimos casos mortais de Ébola, é um afamado centro comercial que recebe milhares de pessoas diariamente oriundas de países vizinhos, como o Uganda, Ruanda, Quénia e nacionais congoleses.

Milhares de pessoas abastecem-se diariamente de mercadorias em grossistas instalados em Butembo, o que, como sublinha a OMS, porque a proximidade entre indivíduos é essencial à contaminação, é um dos factores mais sensíveis para a definição de estratégias de contenção deste tipo de doenças.

Os fluídos corporais, suores, vómitos, sangue etc: são a principal fonte de contaminação entre humanos, o que grandes concentrações de pessoas facilita, mas que é igualmente alicerçado nas fortes raízes culturais locais que impõem que os vivos demonstrem afeição pelas vítimas através do toque nos corpos, sendo a recusa a fazê-lo um gesto mal aceite pela comunidade.

Alias, é na diluição dessa tradição em tempo de epidemia que as equipas sanitárias se concentram para evitar novas contaminações, mas o Governo de Kinshasa já admitiu estar a ser muito difícil convencer as pessoas das comunidades com óbitos resultantes do Ébola a não realizarem as cerimónias tradicionais com defuntos provocados por este vírus, sendo o resultado o contínuo alastramento da doença.

Segundo dados coincidentes da OMS e dos MSF, são já 137 os doentes de Ébola confirmados, dos quais 92 faleceram.

Face a este perigoso desenvolvimento, e apesar dos esforços para conter o vírus, nomeadamente através da utilização de vacinas experimentais que já deram bons resultados em epidemias anteriores, o Ministério da Saúde do Uganda instalou detectores de temperatura portáteis nas fronteiras terrestres e fluviais/marítimas e nos aeroportos para impedir que doentes contaminados mas ainda não diagnosticados possam sair ou entrar.

Este esforço ugandês está a ser direccionado com maior urgência para as áreas fronteiriças com a RDC.

Recorde-se que a OMS tem em curso um alerta generalizado aos países vizinhos da RDC, incluindo Angola, que aconselha o recurso ao controlo das fronteiras, especialmente com unidades médicas com capacidade para determinar casos de eventual contágio que careçam de posterior confirmação laboratorial.