A manifestação de preocupação pela ONU surge depois de a igreja católica congolesa ter feito o mesmo diagnóstico sobre a forma como a polícia e as restantes forças de segurança estão a agir.

O último exemplo apontado pelas duas instituições ocorreu no dia 31 de Dezembro, num protesto que partiu de uma iniciativa de organizações católicas para, em Kinshasa, exigir o cumprimento do acordo de 2016 que previa o abandono do poder do ainda Presidente da República durante o ano de 2017 e a realização das eleições gerais que já vão para o segundo ano de adiamento.

"As Nações Unidas estão profundamente alarmadas pelas acções das forças de segurança na RDC", avança um documento do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, onde admite também que o balanço de mortos e feridos dos protestos do último dia de 2017 pode ser substancialmente mais elevado que aquele que foi divulgado, de pelo menos oito mortos.

Apesar de as autoridades de Kinshasa garantirem que não ocorreram vítimas mortais, a ONU sublinha que os relatos do terreno apontam para a existência de vários mortos e que os seus funcionários foram impedidos de entrar em hospitais e morgues da capital, bem como aos centros de detenção.

O mesmo documento indica que foram utilizadas balas reais na contenção dos manifestantes.

Recorde-se que estes protestos na RDC resultam de uma situação de clara crise política motivada pela não realização das eleições gerais no calendário normal, que estavam previstas para Dezembro de 2016, tendo o Presidente Kabila conseguido adiar as eleições através de diversos esquemas, alguns deles, segundo a oposição, como as revoltas de milícias no Kasai, para se manter no poder.

Depois de falhado o acordo intermediado pelos bispos católicos a 31 de Dezembro de 2016, que previa eleições até finais de 2017, agora o novo calendário eleitoral aponta para 23 de Dezembro de 2018, embora a ONU já tenha, bem como alguns países individualmente, sublinhado que esta é a última oportunidade oferecida a Kabila para cumprir com a obrigação constitucional de realizar eleições e de fazer prevalecer o Estado de Direito.

Entre Setembro e Dezembro de 2016 estima-se que mais de 200 pessoas morreram em protestos públicos para exigir a realização de eleições, violentamente esmagados pelas forças de segurança.