Com cerca de 40 casos registados como contaminações de facto ou suspeitas de contaminação, com pelo menos 20 mortos confirmados na zona de Bikoro, próximo da fronteira com o Congo-Brazzaville, nas margens do Rio Congo, que flui para Angola, e apesar do forte dispositivo técnico e humano enviado para o local pela OMS, Médicos Sem Fronteiras (MSF), UNICEF e autoridades congolesas, impedir que a epidemia alastrasse para a cidade de Mbandaka era tarefa difícil, como acabou por se verificar.

Há já, segundo dados divulgados pelas equipas no local, pelo menos três casos registados em Mbandaka, que estão a ser alvo de confirmação em laboratório, bem como o reforço dos meios de contenção na capital provincial do Equador, uma urbe com escasso saneamento básico e com as condições ideias para a propagação rápida do vírus devido aos pobres mas densamente povoados bairros nela existentes, onde as condições sanitárias são claramente más.

A OMS, logo após a notificação oficial dos primeiros casos de Ébola em Bikoro, no dia 08, embora os casos suspeitos tenham surgido antes, no dia 03, admitiu que se estava a preparar para "o pior dos cenários".

Essa situação seria o alastramento da doença para zonas densamente povoadas, abrindo caminho à repetição de uma situação semelhante à que sucedeu em 2014, na África Ocidental, onde mais de 11 mil pessoas morreram e dezenas de milhar focaram com sequelas da doença, com especial incidência em países como a Serra Leoa, Libéria e Guiné-Conacri, tendo a OMS, na altura, sido severamente criticada pela reacção tardia à epidemia.

Desta feita, a resposta foi imediata, praticamente produzida num espaço de horas para a chegada das primeiras equipas, com uma melhor organização entre a OMS, os MSF e as equipas sanitárias nacionais, com mais de 3,5 milhões de dólares reunidos para aquisição imediata de equipamento que a região não dispunha.

No entanto, a chegada, a confirmar-se, do vírus a Mbandaka, pode constituir o primeiro furo na malha montada em torno do epicentro da epidemia, com consequências que, para já, é cedo para antecipar.

Isto, porque o Ébola é um vírus que se propaga através de algumas práticas culturais difíceis de suspender em algumas regiões de África, como sejam, entre outos, o toque com os lábios nos corpos dos mortos e os rituais de lavagem dos cadáveres, que são algumas das principais causas da dispersão da doença.

O Ébola tem nos fluídos corporais e secreções a principal via de contaminação.

O recurso a uma vacina experimental, que deu bons resultados em laboratório, está a ser enviada para a região, embora o Governo de Kinshasa ainda não tenha autorizado a sua utilização para fazer face à 9ª epidemia de Ébola que atinge o país desde que foi descoberto, em 1976, também neste país.