O prelado Marcel Utembi, presidente da CENCO (na foto, ao centro), enviou uma carta à CENI onde diz que "entre as irregularidades que irritam a população, a mais grave, que poderá levar o povo a sublevar-se, seria publicar resultados, mesmo que provisórios, que não sejam conformes à verdade das urnas".

Face a esse aviso, os prelados católicos apontam o dedo directamente à CENI, órgão que, recorde-se, a oposição congolesa acusa de estar ao serviço do regime, de ser uma marioneta do ainda Presidente Joseph Kabila, afirmando que se ocorrerem episódios de violência, "serão responsabilidade" da Comissão Eleitoral.

Como pano de fundo a este aviso da igreja católica, que representa mais de 50 por cento dos 80 milhões de habitantes da RDC, estão as violentas manifestações de 2016 e 2017, onde centenas de pessoas perderam a vida em confrontos com as forças de segurança quando exigiam a realização de eleições - adiadas por duas vezes desde Dezembro de 2016 - e a saída de Kabila do poder.

Esta tomada de posição pública da CENCO aparece como resposta clara a uma outra da CENI, onde o seu presidente, Corneille Nangaa, acusou o CENCO de estar "intoxicar a população" com a divulgação de resultados obtidos pelos seus mais de 40 mil observadores às eleições, violando as disposições legais relativas à realização das eleições, nas quais surge claro que compete à CENI proceder à divulgação de resultados, definitivos e parciais.

No entanto, mesmo acusando a CENI de estar a chegar o fogo à pólvora com os atrasos na divulgação de resultados provisórios, e de existir o risco de este órgão estar a preparar uma jogada fraudulenta que leve o candidato do regime, escolhido por Kabila, o seu ex-ministro do Interior, Ramazani Shadary, ao poder, a CENCO admite que compete a ele divulgar essa informação.

Recorde-se que os resultados provisórios estavam para ser divulgados no Domingo, 06, mas foram adiados pela CENI devido a dificuldades de agregação de dados oriundos das 26 províncias do extenso país, mesmo que tenha sido o regime a cortar o acesso á internet na RDC alegadamente para evitar os apelos à sublevação e as notícias falsas sobre resultados pelas redes sociais.

Esses resultados provisórios só serão tornados públicos durante esta semana, sem que tenha sido avançado um dia preciso, mas, segundo informações oficiosas recolhidas pelos jornalistas junto de observadores, o candidato da oposição apoiado por Jean-Pierre Bemba e MOise Katumbi, Martin Fayulu, lidera, de longe, a contagem de votos, seguindo-se-lhe Félix Tshisekedi, o herdeiro político e filho do histórico Etienne Tshisekedi, com Shadary a surgir apenas em 3º lugar, com menos de 20 por cento dos votos.

Todavia, para já, a única certeza que existe é que Kabila vai deixar o poder ao fim de 18 anos a liderar a RDC, e que estas poderão ser as primeiras eleições, desde 1960, ano da independência do país, com transição de poder, sem que ocorra violência generalizada.

Mas isso não está ainda garantido, porque a maioria dos analistas não têm dúvidas de que se a CENI anunciar Ramazani Shadari como vencedor, isso despoletará uma onda avassaladora de violência.

Isso mesmo temem as organizações internacionais e a comunidade internacional, a ponto de os EUA terem feito deslocar um contingente militar para o Gabão de forma a socorrer os seus cidadãos na RDC e as instalações diplomáticas.