Logo a seguir a esta reunião, que vai decorrer em Adis Abeba, Etiópia, os Chefes de Estado e de Governo da SADC vão reunir com o Presidente da União Africana, Paul Kagame, que, enquanto Presidente do Ruanda, país que faz fronteira com a RDC numa das mais escaldantes regiões do mundo, tem especial interesse na evolução da situação congolesa.

Por detrás desta intensa agenda de emergência, como última demonstração da estranha eleição na RDC, está uma análise do jornal britânico Financial Times aos dados recolhidos sobre a votação, que, segundo a publicação, não deixam margem para dúvidas sobre ter existido uma fraude massiva, que prejudicou de forma clara Martin Fayulu.

De acordo com os dados do Financial Times, Martin Fayulu, apoiado pelos pesos-pesados da política congolesa Jean-Pierre Bemba e Moise Katumbi, obteve 59,4 por cento dos votos e Félix Tshisekedi, apesar de ter sido declarado vencedor provisório pela autoridade eleitoral congolesa, a CENI, não foi além dos 19%.

No anúncio feito pela CENI, Tshisekedi teria conseguido 38,5 por cento dos votos e Fayulu não teria ido mais longe que os 35,2.

Recorde-se que Tshisekedi está a ser fortemente acusado de ter feito um acordo com o Presidente Kabila para que fosse declarado vencedor através de expedientes fraudulentos, como forma de conseguir manter influência na governação após abandonar o poder, onde está desde 2001.

Na terça-feira, o jornal britânico publicou que chegou a esta conclusão ao analisar os dados referentes à votação, que coincidem com aqueles que se sabe terem sido obtidos pelos 40 mil observadores que a Conferência Episcopal da RDC (CENCO) colocou no terreno no dia da votação.

Martin Fayuku já tinha recusado aceitar os resultados, recorreu para o Tribunal Constitucional e acusou Kabila e a CENI de terem fabricado, através da fraude, um candidato à sua medida.

O mesmo assumem vários analistas que apontam para a decisão de Kabila em procurar em Tshisekedi a solução para o seu problema, visto que estava impossibilitado de conseguir "fabricar" a eleição do seu candidato e antigo ministro do Interior, Ramazani Shadary, porque isso seria demasiado evidente.

Face à soma de evidências que surgiram nos últimos dias, e às dúvidas que já estavam implantadas na sociedade congolesa, a SADC, que já tinha pedido uma recontagem dos votos como forma de expurgar todos os elementos que possam criar suspeitos em torno da verdade eleitoral, vai reunir amanhã, quinta-feira, de urgência, em Adis Abeba, Etiópia, onde está localizada a sede da União Africana.

Depois de reunidos os países que integram a SADC, o Presidente da União Africana, e do Ruanda, Paul Kagame, vai encontrar-se com os Chefes de Estado de 16 países africanos, com destaque para os vizinhos da RDC e das organizações que este país faz parte, como a SADC, para discutir esta potencialmente explosiva situação num dos mais complexos países do continente.