Numa declaração feita hoje ao Parlamento britânico, Theresa May, para além deste passo grave de suspender os contactos diplomáticos com Moscovo, anunciou ainda a expulsão de 23 dos 59 diplomatas que a Rússia tem em território britânico.

Isto, depois de o antigo espião russo Serguei Skripal, e da sua filha, de 33 anos, terem sido encontrados, a 4 de Março, à beira da morte, estando ainda em situação de perigo de vida, devido ao envenenamento com um conhecido gás de nervos (nerve-agent) denominado Novichok, produzido na antiga União Soviética.

Sergei e Yulia Skripal foram encontrados inconscientes próximo de um centro comercial de Salisbury, no sul de Inglaterra.

Antigo coronel dos serviços secretos militares, Sergei foi apanhado, em 1995, a vender segredos aos Reino Unido, tendo sido condenado a 13 anos de cadeia mas foi libertado e autorizado a ir para Londres em 2000, no âmbito de negociações entre os dois países para troca de espiões capturados num e noutro lado.

Provas, exige Moscovo

Apesar de ainda não terem sido reveladas quaisquer provas cabais do envolvimento da Rússia na tentativa de assassinato de Skripal e da sua filha, e com a diplomacia russa a exigir provas efectivas e que elementos de Moscovo integrem as equipas que lidam com este problema por se tratar de um cidadão russo, o Governo de Theresa May parece não ter dúvidas e abançou com uma medida de retaliação pesada na teia de possíveis atitudes diplomáticas, suspendendo os contactos bilaterais e expulsando diplomatas.

Face às suspeitas lançadas pelo Governo britânico e rapidamente divulgadas como factos nos media de praticamente todo o mundo, a resposta de Moscovo foi imediata e aponta o dedo em sentido inverso, justificando que May está a recorrer a este expediente para divergir as atenções internas dos problemas graves que o país atravessa, nomeadamente o processo denominado "Brexit", que deverá terminar com a saída da União Europeia e a crescente contestação popular a que está a ser sujeita.

De acordo com Vyacheslav Volodin, porta-voz do Parlamento russo, a responsabilidade pelo ataque a Skripal é da "exclusiva responsabilidade do Governo britânico", acusando mesmo Theresa May de ser "deselegante e descoordenada" na forma como acusa Moscovo.

Isto, depois de o próprio titular da pasta dos Negócios Estrangeiros russo, Segey Lavrov, ter dito de forma clara que "a Rússia não tem ou tinhas quaisquer motivos para envenenar Skripal", embora tenha adiantado que "aqueles que procuram alastrar a russofobia tem as suas razões para o terem feito", embora sem apontar nomes ou organismos.

Enquanto não surgem provas irrefutáveis num ou noutro sentido, os analistas têm vindo a sublinhar que o veneno utilizado é de grande letalidade mas também sobejamente conhecido por ser um dos fruto malignos da guerra frio que colocou a antiga União Soviética e os EUA em permanente mas controlada tensão global, directamente ou através de terceiros, como sucedeu com dezenas de conflitos em África.

E ainda que existe hoje uma lista com cerca de duas dezenas de países que no passado tiverem acesso a este gás de nervos, incluindo os EUA e outros que não estiveram geograficamente integrados no Pacto de Varsóvia, a organização similar à NATO do outro lado da "Cortina de Ferro", como Winston Churchill, o antigo primeiro-ministro britânico apelidou a geografia que separava as duas europas e que, mais tarde, viria a ganhar corpo com o Muro de Berlim, que começou a ser erguido em 1961 e foi deitado abaixo com a derrocada do "império" Soviético, em 1989.