É hoje claro que responsabilizá-los em regime de exclusividade, como se as nossas lideranças não tivessem nenhuma responsabilidade, seria no mínimo infantil e idiota. Têm sido os governantes africanos, em primeiro lugar, os responsáveis principais da manutenção de um sistema que nunca parou de funcionar, sendo que, deixando de ser colónias, tornámo-nos, na maior parte das vezes, neo colónias, que continuam a alimentar o progresso e a qualidade de vida dos outros, em detrimento de nós próprios.

Às segunda e terceira gerações da luta de libertação angolana - abarcando as suas múltiplas vertentes - devemos a manutenção do nosso território, o aprofundamento da consciência patriótica e o aprofundamento da construção da Nação, enquanto tal. Mas também é verdade que essas gerações não foram capazes de dar os passos seguintes. Que seriam, naturalmente, o da consolidação da independência política por via de políticas económicas de grande visão, quer por via do aproveitamento das infra-estruturas deixadas pelo país colonizador, quer depois da sua destruição resultante das guerras pela sua recuperação, procurando que, rapidamente, Angola ressurgisse com o potencial agro-industrial que já tinha em meados dos anos 70.

As gerações a seguir à dos "Pais" da luta escolheram outros modelos de (não)desenvolvimento. Primeiro, por via da recusa das escolhas político-ideológicas inicialmente feitas, que alguns pretendem agora condenar liminarmente, sem atender à realidade concreta que vivíamos e às possibilidades que se abriam de nos libertarmos efectivamente dos usos e abusos das potências ocidentais. Segundo, porque, abismados perante a aparente facilidade com que viviam do petróleo, se esqueceram com uma facilidade que se foi acelerando, que existia um país à sua espera. E que as necessidades não se podiam cingir à "acumulação primitiva de capital". Que era preciso atender a um programa maior que não terminou com a ascensão à independência. Pelo contrário. Começava aí.

O aprofundamento das causas e consequências de alguns desses erros históricos geracionais - não adianta querer agora arranjar responsáveis únicos e individuais - hão-de ser aprofundados por quem se interessa por essas matérias, por quem as estuda, investiga e divulga.

Quase 42 anos depois, está na hora de virar a página e dar o passo que é crucial para a nossa manutenção como país soberano, independente e autónomo, sob todos os pontos de vista. E este passo, só pode ser dado pela via do trabalho, do esforço conjunto, em simultâneo com uma mudança generalizada de mentalidades que só as transformações económicas podem trazer.

É urgente então a recuperação dos mecanismos legais que nos permitam voltar a ter uma sociedade normalizada. Urgente é semear o terreno por onde possa, com a urgência possível, voltar a nascer uma visão a médio e longo-prazos para o país. Urgente é que o primado da lei, a todos os níveis, volte a fazer morada definitiva entre nós. Urgente é que as novas gerações comecem a estudar o legado dos "Pais" da Pátria. E cumpram o dever de lhe dar continuidade. Sob pena da História os condenar. Irreversivelmente.