Falámos com eles para saber o que faziam e porquê, ao invés de brincar. Na simpatia que lhes é peculiar saudaram-nos com muita satisfação e respeito, começando de imediato a fazer boa muxima a ver se comprássemos alguma. Eram irmãos, moravam próximo, recolhiam múcua a brincar para ajudar na renda do lar. Poderiam estar a brincar como seria de esperar numa criança da idade delas, mas preferiam bumbar para não sofrerem muito mais. Lembrei-me que quando putos em Kambambe passávamos a vida a brincar nas árvores - mangueiras, goiabeiras, abacateiros, gajajeiras, tambarineiras, num imbondeiro era difícil, por causa da forma do seu caule. Mas essas crianças conseguiram subir, porque alguém cravou estacas no caule em forma de escada, facilitando a escalada ao topo.

Apesar do risco de queda agravado pela falta de assistência médica e medicamentosa adequada por lá, os putos correm tipo nada e trepam às árvores que sorriem satisfeitas pelas cócegas dos pezinhos coxitos que se ajeitam para conseguirem tirar o doce que irá espantar o azedo amargo da vida traduzida em dioba, surda que lhes é imposta por uma pátria que às suas crianças deve muito e quase que não as reconhece sequer, a não ser que sejam seus afilhados predilectos com sangue real, fez com que víssemos que algo estava ao contrário, que as prioridades eram outras, as crianças brincam no trabalho quer estejam no campo ou na nguimbi, onde zungam em busca de uma esperança num sopro na nota cacimbada de um madiê aflito e aborrecido que na via aproveita a fezada e caúla um mambo sem saber que "tá a ajudar a tundar a desgraça e a prolongar o sorriso do pioneiro, até o fiscal surgir com vontade olímpica e cafricar a alegria.

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