Um dos erros básicos nas análises sobre o continente berço é inferir que a realidade económica, social e política de Angola pode servir de base para uma análise sobre África, em geral. Para o bem e para o mal, Angola é um caso muito especial no continente, pela sua história e pelo seu percurso político e económico.

E para ilustrar o argumento, podemos compará-la ao Quénia e ao Ghana. Por exemplo, em 2019, o Ghana teve um crescimento do seu Produto Interno Bruto de 6,7% e o Quénia, um crescimento de 5,7%, enquanto Angola teve um crescimento negativo de 1,5%, sendo o quarto ano consecutivo em crescimento negativo (desde 2016), prevendo-se uma queda maior em 2020, por causa da crise económica provocada pela Covid-19.

Por essa razão, não podemos extrapolar o que se passou em Angola para o continente africano, do ponto de vista económico. Angola tem andado a divergir desde 2016, e isso está relacionado com a sua excessiva dependência do petróleo para o crescimento económico e o elevado grau de concentração de exportações numa só matéria-prima (efectivamente um país em monoprodução, um petro-Estado).

Podemos fazer a mesma análise do ponto de vista da governação. O Índice Mo Ibrahim de Governação mede a qualidade da governação no continente africano e inclui vários indicadores, entre quatro grupos principais (Segurança/Estado de Direito, Participação/Direitos Humanos, Oportunidades Económicas Sustentáveis e Desenvolvimento Económico). No Índice de Governação de 2018, Angola estava classificada em 45.º lugar, num total de 54 nações. O Ghana está em 6.º e o Quénia, em 11.º.

No Relatório Doing Business, do Banco Mundial, de 2020, que mede o ambiente de negócios, o país também aparece entre os piores países do mundo e do continente africano, em particular, em 177.º, numa lista composta por 190 países. O que demonstra que olhar o continente sobre o prisma angolano pode conduzir a conclusões muito erradas sobre o seu estado na dimensão do ambiente de negócios, que inclui vários indicadores relevantes.

Há muitos aspectos que são comuns no continente, mas há uma grande heterogeneidade de experiências políticas, sociais e económicas que conduzem a diferentes resultados. Tentar ver África apenas através da perspectiva angolana é um erro básico de análise, cometido por muitos analistas.

Angola, infelizmente, até agora não tem melhorado os indicadores de governação e de ambiente de negócios, e isso explica, em parte, a divergência económica (além do culpado óbvio, o petróleo) do continente, em geral, e dos países acima mencionados. As receitas do crude permitiram esconder, em boa medida, as debilidades institucionais do país e não criaram incentivos para maior abertura económica que levasse a uma melhoria ou a uma diversificação de Angola.

Por essa razão, é preciso repensar uma estratégia que vá para além do petróleo (principalmente numa produção petrolífera a cair até 2025), e isso implica mudar de paradigma sobre o modelo económico e social que temos. A melhoria do ambiente de negócios e dos índices de governação são, por isso, imperativos e urgentes em Angola.

O economista africano George Ayittey, no livro Africa Unchained, divide as lideranças africanas entre chitas e hipopótamos, usando uma analogia com o reino animal. Para Ayittey, os hipopótamos (hippos) constituem os estilos antigos de liderança, mais preocupados com a manutenção do poder político do que com modelos democráticos e de boa governação. As chitas (cheetahs) representam o novo estilo de liderança, líderes democráticos, competentes, não corruptos e preocupados com o desenvolvimento económico e social do continente. O continente e Angola precisam de mais chitas que possam implementar reformas que permitam criar mais prosperidade e melhorar o ambiente de negócios e da governação.

Acima de tudo, temos de ver África como é na realidade: um continente com países distintos, com resultados diferentes e temos de aprender com as melhores práticas dos países na linha da frente do continente, como Botswana ou Cabo Verde. A comparação com o Gana e com o Quénia revela que Angola ainda está longe de chegar à linha da frente do continente, razão pela qual não devemos ficar surpreendidos com o impacto que a queda do preço do petróleo teve e tem em Angola. Em suma, África não é um país.