Temos de ser capazes de construir um país novo e isto não acontece nem por decreto nem por magia, por melhores que sejam as intenções do Presidente da República. Exige um trabalho ético. Exige patriotismo. Exige amor pelo próximo. E é aqui que nos deparamos com o problema. Durante anos os comités de todas as especialidades do MPLA foram incapazes de fazer nascer a consciência da defesa da boa governação, da transparência e da valorização da sua bandeira que visava "resolver os problemas do povo". Foram incapazes de aceitar uma opinião pública tornada proscrita e identificada como inimiga da paz por denunciar a voracidade do saque e da negligência institucional que estavam a conduzir o país para o abismo.

É reconhecida o quão moribunda está a imagem do partido e foi sobre esta evidência que João Lourenço ganhou as eleições de 2017 assentes na promessa do nascimento de uma pátria com moralidade, garantindo dignidade aos mais pobres e protecção do povo que estava abandonado. Foi desta forma que João Lourenço ganhou as eleições. Com a promessa de um Novo País. Não foi o MPLA estéril em princípios que ganhou. As acções do início do mandato aumentaram as expectativas de muita gente. A ideia de mudança devolveu a esperança mesmo a quem não era daquele partido, galvanizou a atenção da comunidade internacional, abrindo o país para novas oportunidades, rebentando com os monopólios em todos os sentidos. E é por causa disto que se trava uma guerra nas entranhas do partido que em nada beneficia o país. Esta não é uma maka do povo, mas afecta-nos, e isso não é admissível.

Por isso, temos o dever de dizer ao Presidente João Lourenço que da janela das casas do "povo em geral" é visível que os seus inimigos estão dentro do seu partido e não suportam a ideia de construção de um país para todos alicerçado nas boas práticas por terem deixado de beneficiar dos mimos do poder e dos milagres da "primitiva acumulação de riqueza" que arruinou Angola.

Temos, sim, o dever de dizer ao senhor Presidente que está rodeado de muitas pessoas que mentem, que sonegam informações. Pessoas sem verticalidade que não ouvem conselhos e perderam legitimidade por terem sido coniventes com o fracasso da governação passada. Estas pessoas não lhe querem bem, senhor Presidente, e não nutrem amor pelo povo ou não estariam todos os dias a caminhar para o fracasso das suas promessas e a cometer erros de palmatória desde que tomaram posse.

Devemos, sim, continuar em alerta máximo perante uma administração viciada pela corrupção que precisa de ser avaliada em todos os sentidos e que deve aprender a trabalhar com ética, humildade e menos militância para que seja capaz de se impor contra todos os procedimentos que atentem contra a eficiência e eficácia dos programas que visam resolver os graves problemas que temos. Temos o dever de nos levantar sempre que há violência, injustiça ou são abandalhados os direitos dos cidadãos.

É imperativo que o Presidente tenha a certeza quem é lobo e quem é ovelha no seu gabinete, no seu governo e na administração pública, porque os conselhos dos lobos não são para levar em conta, por serem contrários à construção do desenvolvimento e do progresso social. Oiça a Academia. Explore os conhecimentos técnicos de notáveis cidadãos que pensaram Angola com soluções tangíveis e são leais à Pátria. Do actual "viveiro de quadros" do MPLA não nascerá genialidade para resolverem o país, nem a humildade para reconhecerem quando não sabem e erram. O país precisa de acreditar que tem um Presidente de todos os angolanos e a liderança tem de convergir esforços fora da bolha militante para fazer nascer as melhores soluções em função das prioridades. Sonhou com um Novo País. Não permita que lhe roubem o sonho.

Acredito piamente que o processo de construção de um País para Todos é imparável porque já nos tiraram tudo, incluindo a paciência. Somos um país maioritariamente jovem e é aqui que devemos investir. É esta avaliação feita de forma consciente, sem populismo, com base em dados estudados e realistas que deve ser a prioridade ou não teremos futuro. Os jovens são dedicados às causas, comprometidos com o bem comum e possuem informação capaz de transformar mentalidades e de promover boas práticas. Mas é preciso criar igualdade de oportunidades à nascença e uma Educação de qualidade que atenda à necessidade de construir sabedoria e ética capaz de permitir um exercício de cidadania consciente que contrarie todos os vícios que impedem a boa governação e a felicidade dos cidadãos.