A resolução desses problemas passa com obrigatoriedade por, aos poucos, e tomando nota das dificuldades que se têm à frente, aprender a pesar os muitos "deves e haveres", as medidas que se tornam indispensáveis tomar a curto prazo, de forma a abrir caminho que permita antever o médio e longo prazos, de forma organizada, inteligente e que evite, tanto quanto possível, alguns erros naturais, aqui e ali.

Desatar em correrias, pretendendo que alguns dos caboucos sejam reforçados de imediato sem atender à situação real que vivemos, ou exigir resultados imediatos de políticas que levam às vezes alguns anos a implementar, é sinónimo de alguma infantilidade e de uma noção pouco madura do que é ter-se sentido de Estado, além de demonstrar algum desconhecimento do que é governar.

Outra vertente negativa, que é necessário cuidar com muito cuidado e responsabilidade é esta leva relativamente recente de gente que, sem premissas ideológicas e culturais suficientemente sólidas, foi-se refugiando nas inúmeras igrejas que pululam um pouco por todo o país, e que, muitas vezes, acabam por ter efeitos mais perniciosos que positivos para toda a comunidade. Há umas semanas, um articulista cujo nome não fixámos, pedia ao novo Presidente da República que agisse como um bom "Pastor", no sentido de que nós seríamos o "rebanho" que precisava de ser convenientemente dirigido, conduzido e orientado.

Ora, sendo como somos, independentes há quase quarenta e dois anos, seria bom recordar que "pastores" já temos que cheguem nas igrejas e seitas que, é sempre bom lembrar, devem ver o controlo do Estado apertar à sua volta, mesmo por ser do conhecimento geral que algumas delas vivem da extorsão, roubo e aproveitamentos das fragilidades estruturais de muitas cidadãs e cidadãos. E que a ideia do "Pastor" que cuida do seu "rebanho" acabou no dia em que nos tornámos República. Para os mais esquecidos, República Popular, para dar verdade histórica ao que escrevemos.

Os angolanos deixaram de ser rebanho na madrugada em que foi posto fim ao colonialismo. E ganharam o direito (e dever) de se tornarem cidadãos de corpo inteiro, com voz e vontade próprias, num processo, é verdade que longo, mas de amadurecimento, autonomização e direito a disporem do seu futuro. Sem reis nem senhores, muito menos "pastores".

Mais uma razão entre muitas que devem convidar todas e todos a um processo de alguma reflexão. Já dizia o Presidente Agostinho Neto que muitas vezes a vida, quando se transforma em realidade, não corresponde necessariamente ao que sonhámos.

O processo que agora estamos a iniciar, no qual temos razões para acreditar e que trará resultados para a generalidade dos cidadãos angolanos, não é para ser concluído do pé para a mão. Não pode ser misturado com o que é a espuma dos dias, a vontade imediata, o querer já para ontem. É um caminho que exige prudência, sensatez, muito debate e muita busca de consensos, nomeadamente nos vários caminhos que existem para a saída dos nossos gravíssimos problemas económicos.

Não há ninguém que não tenha pressa na solução de alguns dos problemas estruturais da sociedade angolana. Mas também não há ninguém com algum bom senso que esteja à espera que os problemas sejam resolvidos do pé para a mão, por dá cá aquela palha, como é usual dizer-se.

Nem com "pastores", nem com "rebanhos", nem com obediências cegas perante qualquer ser extraterreste. Somos todos nós quem tem a responsabilidade de ajudar a abrir caminhos, a vencer algumas das dificuldades e a termos a noção de que cada um de nós, é uma peça indispensável à melhoria da situação económica e social do país. Com prudência e sabedoria.