Não sei se voltei. As águas de um rio não correm duas vezes pelo mesmo lugar. Aquela estrada que me levou às utopias da vida era um caminho sem regresso. Ou com regressos diferentes.

Em Luanda acompanhei de perto o início da luta de libertação nacional e os horrores da repressão que se abateu sobre inocentes e não inocentes. No Liceu comecei a formar, ou melhor, a consolidar, porque as marcas já vinham do meu pai e do meu tio, a minha consciência nacionalista e de defensor dos agora chamados mais desfavorecidos. Estive do lado dos meus companheiros que foram presos e torturados pela causa da independência, e exultámos e sofremos com os avanços e recuos da luta.

Viviam-se os fabulosos anos 60 e depois 70 que transformaram o mundo. Eram tempos de revoluções e de utopias, só possíveis pela irreverência dos jovens de quase todas as latitudes. Só possíveis porque antes, muito antes, aconteceram outras revoluções e utopias. A revolução francesa, a americana, a russa, todas elas explicam os espantosos ganhos cívicos, políticos, económicos, sociais e culturais que moldaram a vida dos povos depois da Segunda Guerra Mundial. Houve erros e crimes, é verdade, mas a ascensão dos povos colonizados à independência, os progressos contra o preconceito racial, a redução da fome em países como a China, a Índia, a Etiópia, entre outros, foram conquistas enormes para a humanidade. Em países como os do Norte da Europa, por exemplo, as lutas políticas permitiram o alargamento progressivo dos direitos humanos com a incorporação dos direitos económicos, sociais e culturais (DESC). Ficar indiferente a isso é, tenho que dizê-lo, criminoso.

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