Falamos de gente que é essencial para as transformações sociais, já que, acompanhando as económicas - mais lentas e demoradas do que gostaríamos mas compreensivas depois de analisarmos tudo quanto sucedeu ao nosso país nos últimos vinte anos -, são essenciais para a revolução moral e intelectual que terá necessariamente de emergir depois de tanto tempo num meio que se tornou abúlico, cinzento, medíocre, muito próximo da indigência.

Porque a esmagadora maioria dos profissionais de hoje não está suficientemente "armada" do ponto de vista intelectual, moral e em alguns casos nem mesmo no elemento básico que é o domínio mais ou menos fluente da língua em que nos expressamos. Porque uma sociedade pobre numa perspectiva material não consegue, de imediato, fazer surgir o elemento humano que seja capaz de transformar a quantidade em qualidade e chegar a conseguir que "toda a situação seja um equilíbrio de forças; toda a vida uma luta de forças contrárias encerradas no limite de um certo equilíbrio"...

Porque a lógica da criação de uma burguesia à força, que não subiu a pulso, que nada produziu, que foi incapaz de criar riqueza colectiva, centrada no seu próprio umbigo e na ânsia desmedida de acumular capital sem nada que o justificasse, ocasiona agora uma rápida degenerescência, plenamente demonstrada nos poucos que ainda se atrevem a abrir a boca. Sem um pingo de inteligência, de conhecimento profundo, utilizando apenas e unicamente a demagogia, deixando clara a falta de conhecimentos básicos que permitiram, com alguma dose de populismo, justificar tudo quanto se passou entre nós e que acabou por conduzir o país quase até à sua ruína.

Como única arma tinham (e alguns ainda têm...) o dinheiro com que foram comprando vozes e consciências, que, sem grandes dilemas éticos ou morais, se manifestaram prontos a estar à venda por pouco. Muito pouco.

Falamos ainda de um momento que, mesmo tendo assistido a um ponto de viragem, por via da eleição do novo Presidente da República, se prolongará por muito tempo. O abismo atingido foi demasiado fundo, a recuperação levará muito mais tempo do que seria utópico pretender e o cansaço atingiu em cheio essas gerações que foram garantindo, desde a Independência, até desde antes da Independência, uma comunicação social séria, empenhada, actuante, no fundo acompanhando as sábias palavras do Presidente Agostinho Neto quando, embora se referisse a escritores, afirmou que "todos nós creio que concordamos em que o escritor se deve situar na sua época, exercer a sua função de formador de consciências, que seja um elemento activo no aperfeiçoamento da Humanidade". Uma frase lapidar que encaixa na perfeição também na nossa função social. Perante o que se vai passando à nossa frente, os dislates, a ignorância, o atrevimento - e o longo tempo que irá levar a reconstrução moral e intelectual de uma sociedade que acabou por ficar perdida, sem timoneiros à altura durante um largo período -, é chegada a hora de, sem deixar de defender os mesmos valores que sempre adoptámos como nossos, dar lugar aos melhores das novas gerações. Que estão disponíveis para pegar no testemunho. Como seres humanos, teremos atingido o limite. Está próxima a hora de dizer adeus.