Porém, e dados os muitos anos de apresentação de dados oficiais que não correspondiam em nada à realidade, continuamos a entender ser absolutamente necessário que o processo de diálogo com todos, desde a população em geral até aos parceiros a vários níveis do governo, deve continuar a ser aprofundado.

A reestruturação económica, a reorganização paulatina do aparelho do Estado, a alteração profunda dos métodos de trabalho, a co-responsabilização em todas as escalas da governação, deve obrigar os dirigentes governamentais a fomentarem mais e mais o diálogo, o debate, a discussão, a explicação e a capacidade de ouvirem, analisarem, decidirem e estarem cada vez mais próximos das comunidades.

Vivemos uma época que, ainda que a vejamos como de um tempo provisório e passageiro, facilita o surgimento a todos os níveis de fenómenos de populismo que se tornam tanto mais fáceis quanto mais problemáticas são as situações que vivemos e que, queiramos ou não, levam o seu tempo a trazerem resultados que queremos (quase) todos sejam "para ontem"...

O estudioso Jan-Warner Muller avisa, com certa razão, "que o perigo para as democracias não é hoje uma ideologia coerente que negue sistematicamente os ideais democráticos. O perigo é o populismo".

O terreno em que nos movemos - que é por vezes pouco visível - congrega em simultâneo uma acção constante da justiça para punir prevaricadores e medidas concretas e corajosas que aliviem, a médio e longo prazos, o estado de inacção em que vivíamos e para onde o país foi conduzido.

Este terreno é o mais propício para gente que nem sequer defende uma ideologia, que não tem uma visão de país, que não apresenta soluções de qualquer espécie, que integrou, alegre e contente, um processo de delapidação das nossas riquezas - durante o qual, na mesma proporção em que o país ia empobrecendo, ia acumulando fortunas colossais -, reaja a todo o instante ao novo quadro que vai sendo alicerçado. Tentando, por via de uma linguagem perigosa, demagoga e num ambiente as mais das vezes pouco sério como é o das redes sociais, trocar as voltas, procurar confusão e criar dúvidas nos cidadãos.

É verdade que o processo de democratização abre caminho para que cada um dê a opinião que tem, mesmo com o direito a dizer disparates. E também é verdade que não é possível responder a inúmeras questões que são colocadas e levantadas todos os dias.

Mas seria bem mais importante se, perante uma situação em que vários(as) tentam inverter a verdade, negar o óbvio, sem terem uma palavra sobre um passado recente em que já tinham chegado ao ponto de, à moda colonial, organizar chazinhos onde se juntavam para arrecadar alguns restos para os pobrezinhos, nos puséssemos de acordo quanto à premência de algumas decisões, quanto à definição daquilo que é primário e o que é secundário.

Daí a importância de termos uma comunicação social actuante, quer pública quer privada, que tenha a capacidade de explicar às pessoas a razão de ser de várias opções, dos sucessivos passos que vão sendo dados, a todos os níveis e nas mais distintas áreas de governação.

Os populistas gostam, por norma, de, afirmando e reafirmando que não pertencem às elites, buscar uma ligação directa com as pessoas. "Nós e o povo" é o lema, o que facilmente os coloca expostos ao ridículo, se nos lembrarmos de que praticamente todos e todas integram estruturas partidárias, têm obrigações estatutárias a cumprir e não devem (não podem) colocar-se na situação de estarem permanentemente em confronto com o que dizem defender, mesmo que as palavras e os actos demonstrem o contrário.

O populismo é perigoso, porque afasta os cidadãos daquilo que são os problemas existentes e as suas possíveis soluções, distraindo-nos e conseguindo que o que são assuntos perfeitamente sem importância ganhem um aspecto de desmedida urgência, enquanto se afastam as pessoas daquilo que é o fulcro, o centro de uma luta que é comum, colectiva, supra-partidária e que deve ser abraçada apor todos os que se reclamam de patriotas.

O resto, na expressão feliz dos brasileiros, é "conversa" para boi dormir.

Atenção aos populistas.