Ao ouvirmos esta semana o Presidente da UNITA, Isaías Samakuva, em entrevista ao nosso colega José Rodrigues da LAC (Luanda Antena Comercial), ficámos não propriamente surpreendidos, mas muito satisfeitos com o que é um discurso coerente, maduro, de Estado, à altura dos pergaminhos de um político a sério.

Isaías Samakuva foi capaz de demonstrar que, qualquer que seja o nosso ponto de vista relativamente à realidade política nacional, é possível olhá-la, fotografá-la e analisá-la transversalmente, com recurso a uma grande seriedade intelectual, fugindo de verborreias e demagogias fáceis e levando-nos a concluir que, pese embora com todas as dificuldades inerentes ao nosso processo histórico, estamos todos a amadurecer. Em particular os intervenientes político-partidários, que se vão preocupando em suportar com argumentos sólidos e coerentes as suas escolhas, em lugar de recorrerem à estafada e cansativa conversa assente na demagogia e no populismo.

Somos dos que acreditam que uma oposição forte, substancial e assente em aspectos quer teóricos quer realistas, e ainda com uma componente que valide os seus princípios programáticos, é essencial para o igual fortalecimento do governo e do partido que o sustenta, com os pés bem assentes na terra, deixando a superficialidade e a conversa banal que já nos cansava a todos. É preciso reconhecer que esta entrevista de Isaías Samakuva é um exemplo a ser seguido por muitos políticos ou candidatos a tal.

Sereno, convicto, tranquilo, responsável mas também didáctico, Isaías Samakuva é uma prova de que o tempo, e com ele o estudo, o aprofundamento do nosso próprio nível de conhecimentos e uma mais abrangente e aprofundada visão dos grandes problemas nacionais, podem ajudar um dirigente a ganhar um estatuto que, para quem sabe a importância de ter um olhar sobre o país, lhe confere uma importância maior do que ser o presidente do primeiro partido da oposição em Angola. Parabéns, Dr. Isaías Samakuva.

E porque denominámos este editorial propositadamente de O seu a seu dono, não temos como não saudar a entrega, melhor, a devolução do passaporte de cidadão nacional a um velho combatente pela independência e pela democracia: Adolfo Maria.

É perfeitamente natural que os serviços consulares angolanos apresentem a questão, que levou quase uma década a ser resolvida, como resultado de um problema administrativo e burocrático. Nós, que não estamos "presos" a uma teia complicada como é a que diz respeito a este tipo de assuntos, temos de o encarar como mais um passo na normalização do país e que só se tornou possível em função de uma nova visão de Estado que finalmente começamos a ter.

E não se diga, como um jornalista (?) de uma rádio luandense, que num assomo de ignorância e de atrevimento teve o mau gosto de qualificar a vitória do Presidente João Lourenço nos prémios promovidos por este jornal com um significativo "Já começou...", insinuando que estávamos a entrar exactamente na senda em que a rádio onde trabalha palmilhou durante muitos anos: da graxa, do endeusamento, da mentira.

O seu a seu dono obriga-nos a dizer o que sempre fizemos. A verdade. E esta não pode ser desvirtuada de maneira nenhuma. Foi preciso um novo ambiente político e social, que preza muito mais a abrangência para que um cidadão como Adolfo Maria pudesse ter de volta o seu passaporte de cidadão angolano.

PS: Saudamos o regresso, depois de merecidas férias, do nosso colaborador Gustavo Costa e com ele, a sempre saborosa Palavra de Honra.