Quatro décadas depois de termos sido fustigados pela primeira "pandemia da guerra", agora estamos a ser dizimados por uma misteriosa "pandemia da paz": a Covid-19.

A grande diferença da "quarentena" de 1975 em relação à "quarentena" dos dias de hoje é que aquela era gerida sem luvas, sem máscaras, sem álcool gel, sem ventiladores, sem testes e sem Internet.

A diferença é que, neste momento, estamos perante uma "pandemia" que não tem rosto, nem cartão de residência, mas que, propagando-se a uma velocidade verdadeiramente impetuosa, ergue-se agora sem disparar um tiro.

Sem formalismos, sem a pesada burocracia do Estado e sem nenhum Decreto Presidencial, a primeira "quarentena" tinha a "vantagem" de nos pôr em confronto aberto com um inimigo (externo) visível e bem localizado.

Afirmando-se em forma de um novo coronavírus, esta "pandemia" surge como um inimigo que nos obriga agora a ir a jogo às escuras.

Sendo traiçoeira, requer que estejamos bem preparados e treinados e que, sem entrar em pânico e sem histerismo mediático, a enfrentemos com serenidade, racionalidade e determinação.

Fazê-lo requer olhar para frente e deixar de viver atormentado com o fantasma de Jonas Savimbi ou de se sentir refém da herança eduardista, libertando-se de uma nova obsessão que, ao atribuir-lhe as culpas por todos os insucessos da governação, pode leva"-lo a esmurrar a cara na parede.

Fazê-lo requer que os governantes ganhem consciência de que o momento não assacará responsabilidades aos actores do passado, mas àqueles que estão agora à frente do leme do País.

Perante o risco de descompasso governativo e depois do que assistimos no final e após o mandato de José" Eduardo dos Santos, é avisado, por isso, concluir que, na hora do julgamento popular, poderemos voltar a ver antigos e novos "ratos" saltarem do porão e mergulharem nas mesmas histéricas e hipócritas confissões do passado: "eu não estava la", eu não vi nada, eu não sabia de nada, "eu só cumpria ordens"...

Ao "navegarmos contra esta corrente", como preconizava um antigo Primeiro-Ministro chinês, os poderes públicos não podem perder de vista que a dimensão trágica da guerra biológica que nos está a ser imposta, pode vir a representar um verdadeiro cataclismo sanitário e económico para o nosso País.

Os poderes públicos não podem perder de vista que esta pandemia e as consequências da brutal queda dos preços do petróleo como único recurso gerador de divisas para Angola, representam para o Presidente um desafio sem precedentes na história.

Um desafio que obrigará o Governo e a oposição a congelarem as divergências políticas e a unirem-se, sem quaisquer preconceitos ideológicos, em busca de consensos que lhes permitam caminhar em conjunto para poderem enfrentar e vencer o inimigo.

Um desafio que obrigará a todos os cidadãos a ter a noção de que, apesar das adversidades impostas por esse período de excepção, a vida não pára.

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