Passei a minha infância a ouvir a minha mãe falar de um tio que não conhecia. O Tio Hugo. Via-o muitas vezes em imagens, nas fotos de família. Mas pouco sabia dele. Desde cedo percebi que alguma coisa não batia certo. Mas era candengue. Não dava para perceber. Tinha outros tios, irmãos do tio Hugo e da Mariete - a minha mãe. Estava muitas vezes com os outros tios. Recordo os Natais e as férias grades passados nas casas dos outros tios. Ora no tio Jacob, no Lubango. Ora no tio Manuel Pedro, em Malanje. Ora na tia Leah, em Cabinda. Estas tinham um sabor especial. Por causa da minha madrinha, a Tucha. É que ela me estragava com mimos e prendas. Eu adorava!
As poucas vezes que se falava do tio Hugo eram sempre fugazes. E, quando na minha curiosidade infantil fazia perguntas, as respostas eram lacónicas e por vezes erráticas. Mas algo não batia certo! Falava-se do tio Hugo, da sua infância e juventude; da época da sua permanência em Portugal, enquanto estudante. Era o caçula de seis irmãos. Diziam os mais-velhos que era muito gozão e gostava de pregar partidas. Mas depois, a partir da altura em que acabara o curso de medicina, era um vazio. Havia uma barreira de silêncio. Não se falava.
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