É neste ambiente, com tudo contra nós, numa luta estóica que já tem quase 45 anos perante a qual o povo ainda não sucumbiu de vez, mas está exausto, que vemos o acessório tornar-se prioridade. Somos um povo bom. Mas somos um povo à espera. À espera que o país aconteça. Mas não é o país do acessório, pois é esse que vem sendo prioritário e que nos afunda ano após ano sem conseguir resolver, definitivamente, os graves problemas estruturais que nunca tiveram solução.

O país do acessório é o que, com orgulho, aprova os bairros dos ministérios, dos satélites suicidas, dos balneários públicos tecnológicos que morreram à nascença, dos aeroportos megalómanos que consumiram biliões e continuam inacabados e inviáveis, das sedes milionárias de instituições públicas que, embora não consigam prestar um serviço decente, sentem orgulho de ser as maiores de África. No país do acessório, a agricultura familiar, que emprega e alimenta a maioria da população rural é parente pobre em todos os sentidos e é derrotada até nos produtos da cesta básica, maioritariamente, importados.

O país do acessório vende o sonho de um metro de superfície numa cidade com estradas permanentemente esburacadas, compra um condomínio inacabado e corroído pela ferrugem por 25 milhões de dólares, cuja titularidade é publicamente atribuída a um adjunto do combate à pandemia ou gasta 44,7 milhões de dólares para construir uma sede para a CNE, uma instituição manchada pela dúvida desde 2008, que funciona de cinco em cinco anos sem outra serventia e que, ainda por cima, os jornais citam como propriedade militante, onde o dinheiro teria muito maior serventia se fosse usado em formação em conteúdos éticos e patrióticos.

O país do acessório vende o porco (petróleo) e importa o chouriço (gasolina a gasóleo), conivente com perdas épicas de recursos que não podemos desperdiçar, mas cujos beneficiários continuam a merecer os afectos do Estado. O país do acessório que aprova todos os dias projectos milionários, mas não consegue resolver o facto de não ter uma rede de esgotos nacional e eficiente que evitaria a maioria dos casos de malária que são a principal causa de mortalidade e morbilidade em Angola.

Angola tem os mesmos problemas básicos há 45 anos, não obstante a obscenidade dos recursos investidos na sua solução. Infelizmente, não fomos capazes de diversificar a economia, de reconstruir com eficiência, de garantir a protecção de recursos para as gerações futuras (basta ver o mau exemplo de gestão do Fundo Soberano), nem fomos capazes de dar duas refeições diárias a todos os angolanos. Continuamos a não garantir saúde, educação e dignidade para as nossas crianças que morrem ou se deformam, todos os dias de forma dolorosa, por negligência institucional. Num ambiente de pobreza de recursos, qualquer país que ame o seu povo deve adoptar o comportamento do respeitoso chefe de família que perde o emprego. As suas despesas não podem incluir o luxo, o acessório, o incongruente, o absurdo. A preocupação é colocar as necessidades básicas da família no topo das prioridades. Quem não for capaz de entender isto, 45 anos depois, então não estará à altura de satisfazer as necessidades do bom povo e não merece, por isso, a confiança do Soberano.