As dificuldades a todos os níveis são realmente de uma dimensão tremenda, afectando de forma grave o quotidiano de grande parte dos concidadãos que paga bem caro todos os dias as imensas fragilidades decorrentes de um vendaval que, numa dúzia de anos, fez com que passássemos de um país com taxas oficiais de crescimento quase únicas no mundo para um país quase à beira de estar na condição de pedinte.

Evidentemente, a esmagadora maioria das pessoas, que faz da sua vida uma luta quotidiana para manter uma vida com um mínimo de dignidade, e que não tem nem tempo nem disponibilidade para entender a razão de ser das coisas, quer é que o custo de vida baixe, os salários subam, a saúde, o ensino melhore, as estradas sejam de novo construídas, os transportes colectivos não explorem tanto os seus bolsos. Como anseiam por poder vender os seus produtos agrícolas, principalmente os pequenos e médios agricultores, escoando-os para os lugares possíveis, onde possam arrecadar alguns proventos que lhes permita aumentar a sua produção e melhorar a qualidade dos seus produtos.

Porém, as mudanças quer no estilo de governação quer na maior preocupação com que se olha hoje para os produtores nacionais e todas as outras que vão sendo introduzidas não têm como trazer resultados a curto prazo. A vida não é feita de milagres e o esforço gigantesco que já começou a ser feito, principalmente no domínio da protecção da (pouca) produção nacional, levará o seu tempo a trazer à tona os resultados esperados. E é isso que é preciso explicar às pessoas, a nível de toda a administração, desde as funções centrais até ao nível das comunas, passando pelas governações provinciais. Numa linguagem simples e acessível, promovendo uma cada vez maior ligação entre as hierarquias e a sociedade angolana.

Também é verdade que as autarquias facilitarão, e muito, este tipo de contacto, mas, enquanto não se chega a um consenso sobre a sua aplicação, a vida não pode parar nem tão-pouco a realidade.

A transformação da nossa realidade não pode obedecer apenas à alteração de paradigmas de governação nem à moralização das superestruturas ideológicas, jurídicas e políticas que estão no topo da hierarquia de poderes.

É urgente que, de forma pedagógica, simples, terra-a-terra, se explique às pessoas, ao comum dos cidadãos que não lê jornais e que ouve rádio e vê televisão sem que consiga entender, na sua plenitude, as tremendas dificuldades que o país vive no seu conjunto, não apenas as origens dos problemas, mas também os passos que estão a ser dados e o papel que todos nós - nos serviços públicos, nos privados, na agricultura, na agro-indústria - somos obrigados a assumir.

Não se trata apenas de transformações nas formas de governar a todos os níveis. Trata-se, também e principalmente, de adoptarmos todos uma nova filosofia de vida, compreendendo que é o resultado da junção de vontades e de comportamentos, da base ao topo, que poderão ajudar a acelerar as transformações necessárias e urgentes. Que, por sua vez, a médio e longo prazos, levarão a uma inversão da situação económica, com o aumento da produção nacional, a diminuição das importações e, finalmente, a libertação de Angola da dependência única e exclusiva do petróleo. Esse trabalho pedagógico tem de ser estendido às organizações da sociedade civil, às igrejas, às escolas, nos centros de produção, nas associações de todo o tipo, e, como já fizemos referência, numa relação cada vez mais próxima e informal entre governantes e governados.