José Eduardo Agualusa, que tem feito da crítica política e social a Angola um dos temas dominantes da sua escrita, partilha, nas páginas da imprensa brasileira, o seu olhar sobre o futuro do país, traçado a partir dos resultados ainda provisórios das eleições gerais de 23 de Agosto.

"O novo presidente será João Lourenço, um general e empresário (em Angola isso é uma redundância) com um perfil bastante discreto", escreve o autor, que sustenta a declaração nos dados já divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral, salvaguardando que ainda "não se conhecem resultados definitivos" do pleito.

Feita a ressalva, o premiado escritor vê no sucessor de José Eduardo dos Santos (JES) um elemento de mudança.

"Parece-me improvável que João Lourenço venha a ser uma simples marionete de JES. Ao longo da campanha eleitoral, o candidato do MPLA deu vários sinais de aproximação às correntes mais democráticas do seu partido, as quais, nos últimos anos, haviam sido completamente silenciadas", considera Agualusa.

Para além de apontar diferenças entre JES e Lourenço, o escritor vê na futura primeira-dama outro importante factor de viragem.

"No último comício em que participou viu-se Ana Lourenço a tirar do pescoço um cachecol com as cores do partido e a passá-lo a Marcolino Moco, antigo primeiro-ministro, depois caído em desgraça, hoje uma das vozes mais críticas relativamente à liderança de José Eduardo dos Santos", assinala o autor, antecipando um papel de destaque para a antiga ministra do Planeamento na condução dos destinos de Angola.

"Ana Lourenço tem um percurso político muitíssimo mais rico e interessante. Acredito que irá ter grande influência nas decisões do marido", antecipa, destapando a confiança num futuro menos invernoso.

"Pode não ser a primavera, mas não há dúvida de que, nos céus de Luanda, vem surgindo por estes dias uma pequena luz de esperança".