Fernando Heitor, um dos deputados que mais se distinguiu na área da economia ao serviço da UNITA nas últimas legislaturas, deu hoje uma conferência de imprensa para reafirmar aquilo que já era esperado desde que anunciou, nas últimas semanas, o seu afastamento do partido.

"Doravante já não pertenço ao partido UNITA", declarou Fernando Heitor, negando, como chegou a ser especulado, que esteja a caminho de integra as fileiras do MPLA ou mesmo que tenha recebido convite para integrar o próximo Governo em caso de vitória deste partido.

"A partir de agora sou apartidário e vou estar ao serviço da sociedade civil angolana ", acrescentou, criticando alguns programas de governação que alguns partidos políticos da oposição estão apresentar durante a campanha eleitoral em curso no país para as eleições de 23 de Agosto.

No entanto, Heitor não frustrou totalmente aqueles que o colocam na rota do MPLA, criticando apenas as propostas de governação dos partidos da oposição.

"São programas (os da oposição) que não convencem o eleitorado. Os seus líderes fazem discursos incendiários que não ajudam ao processo de reconciliação nacional", afirmou, destacando a coragem do MPLA porque reconhece as falhas cometidas durante a sua governação ao longo dos últimos anos, desde 1975 no poder.

"O programa de governação que o MPLA apresenta ao eleitorado é sério e responsável. Agora, caso vença as eleições, vamos ver como será materializado", advertiu, considerando a UNITA como um partido "cheio de intriguistas".

"Muita gente saiu na UNITA e voltou a entrar ocupando cargos de direcção. Porque Fernando Heitor não pode ser?", questionou, mostrando algum ressentimento pela forma como alegadamente terá sido desconsiderado no seio do "Galo Negro".

Fernando Heitor anunciou recentemente o fim da sua disponibilidade para se manter ao serviço activo da UNITA ou como deputado, tendo entregado uma carta ao presidente da UNITA a informar que não estava disponível a fazer novamente parte da lista de candidatos a deputados.

"Já estou há 20 anos como deputado e julgo ter chegado o tempo de dar oportunidade aos mais jovens", disse Fernando Heitor na missiva, dando agora um passo em frente ao abandonar o seu partido de sempre, sem que, na verdade, isso surja com surpresa.

UNITA não perde tempo com Heitor

Comentando a saída de Fernando Heitor, o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala ao Novo Jornal Online que as pessoas são livre de tomar as suas decisões.

"A UNITA tem uma estrutura forte ea tomada dessa posição não nos surpreende porque é muito normal em democracia", resumiu.

Mas há cerca de duas semanas, quando Heitor disse publicamente que iria apoiar o Programa de Governo do MPLA e ficou claro o seu afastamento definitivo da UNITA, ainda em declarações ao Novo Jornal Online, Alcides Sakala tinha garantido que o partido "não vai perder muito tempo com isso", deixando perceber que a opção do histórico dirigente do "Galo Negro" não teve em conta a importância da diversidade étnico-cultural na direcção do seu partido, nomeadamente quando critica a origem cabindense do vice-presidente Raúl Danda.

Heitor tinha dito na ocasião que Raúl Danda tinha conseguida chegar à vice-presidência da UNITA através da "macumba".

"O dr. Fernando Heitor é livre de tomar as opções que melhor entender, é uma pessoa adulta e com capacidade para analisar o que pensa ser o melhor para ele e a UNITA não vai querer perder tempo com a sua decisão", afirmou Sakala ao Novo Jornal Online.

O porta-voz do "Galo Negro" disse ainda que a UNITA, ao contrário de outros partidos, como o MPLA, que tem a sua direcção confinada a uma origem étnico-cultural, conseguiu durante estas décadas construir os seus órgãos dirigentes com base numa multiplicidade de origens culturais e geográficas, querendo com isto observar que a origem em Cabinda do actual vice-presidente não é de somenos importância.

O porta-voz da UNITA concluiu acrescentando que "a escolha de Fernando Heitor em nada belisca aquilo que são as propostas do partido porque este tem uma direcção experiente e forjada naquilo que é uma visão clara do que é melhor para o futuro de Angola".

Um homem da cidade

Reza a história que o economista de profissão e Mestre em Desenvolvimento Economico e Social de África, Fernando Heitor, aderiu a UNITA em 1974, quando vivia na província do Huambo.

É dos poucos quadros históricos do maior partido da oposição que nunca esteve nas matas. Ou seja, na sequência do recuo militar, de 1975, ele manteve-se nas cidades, sendo quadro do ministério da Industria de que foi seu Director Nacional do Gabinete de Redimensionamento e Desenvolvimento dos Sectores.

Com o regresso da UNITA das matas, e em consequência dos acordos de paz de Bicasse, de 1992, Fernando Heitor integrou as listas de candidato a deputado pelo círculo eleitoral de Luanda.

Fez parte do Governo de Unidade e Reconciliação nacional (GURN) como Vice-ministro das Finanças indicado pela UNITA.

Na administração de Isaías Samakuva teve responsabilidades acrescidas como a de Primeiro-Ministro do Governo Sombra.