Do programa das cerimónias de repatriamento dos restos mortais de um dos mais importantes generais das antigas FALA, da UNITA, que posteriormente, e na sequência dos Acordos de Bicesse, em 1991, integrou as reunificadas FAA como Adjunto do CEMGFA, fez parte a prestação de honras militares numa base aérea sul-africana em Pretória e, por volta da hora do almoço desta quinta-feira, em Luanda, na base aérea, onde será recebido com honras militares angolanas.

Após o cumprimento deste cerimonial de recepção dos restos mortais do general Arlindo Chenda Pena na capital angolana, o programa continuará na sexta-feira com a deslocação para o Andulo, Bié, sua terra natal e onde será definitivamente sepultado.

Para as formalidades inerentes à sua condição de oficial superior, o Governo angolano enviou uma delegação à África do Sul para acompanhar a trasladação dos restos mortais do general "Ben Ben", que inclui membros do Governo e chefes militares.

O "regresso" do oficial a Angola partiu de um pedido de João Lourenço ao seu homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, depois de ter a isso sido instado pelo presidente da UNITA, Isaías Samakuva, no âmbito de um processo mais alargado de reconciliação global entre as antigas forças desavindas que abrange a trasladação dos restos mortais de Jonas Malheiro Savimbi, antigo líder e fundador da UNITA, morto em combate em Lucusse, Moxico, em 2002, encontrando-se até hoje sepultado na cidade do Luena, mas que a família e o seu partido insistem querer fazer regressar à sua terra natal, Muhango, Bié.

Depois do pedido feito pela Presidência angolana, a parte sul-africana, segundo a imprensa do país, garante ter respondido prontamente à solicitação angolana, sublinhando a importância do passado de combatente anticolonial do general Arlindo Pena para este desfecho.

UNITA reconhece uma nova realidade política mais distendida

A notícia do "regresso" de Arlindo Chenda Pena foi avançada na segunda-feira ao NJOnline por Alcides Sakala, porta-voz da UNITA, que explicou que a decisão de repatriar os restos mortais do general surgiu na sequência de um pedido do líder da UNITA, Isaías Samakuva, ao Presidente da República, João Lourenço, que contactou o homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, que prontamente se disponibilizou a que a transladação tivesse lugar.

Alcides Sakala assinala o momento referindo o "gesto de boa vontade" de João Lourenço, destacando que "era inevitável".

"Angola não poderia continuar a viver num clima de constante conflito e tensão como viveu no consulado José Eduardo dos Santos", declarou.

"Passos como este são importantes para começar a construir o futuro de Angola e de uma democracia. Era necessário começar a fechar as feridas há tanto tempo abertas", concluiu o porta-voz da UNITA.

A 19 de outubro de 1998, na Africa do Sul, depois de lhe ter sido diagnosticado paludismo, numa consulta num posto de saúde do exército, o antigo vice-chefe do Estado-Maior das FALA faleceu numa clínica em Joanesburgo por alegada paralisia renal e problemas pancreáticos.

O corpo de Arlindo Chenda Pena "Ben Ben" foi embalsamado pelas autoridades sul-africanas para que, a qualquer momento, a família pudesse reclamar o seu repatriamento para Angola.

Aberto o caminho para a transladação dos restos mortais de Jonas Savimbi para a sua terra natal

Uma das mais pesadas heranças para a UNITA da guerra que terminou em 2002 é a transladação dos restos mortais do seu líder histórico e fundador, morto em combate, em Lucusse, Moxico, a 22 de Fevereiro desse mesmo ano, e sepultado na cidade de Luena, para a sua terra natal, no Bié, conforme o partido do "Galo Negro" exige desde o primeiro minuto após o fim das hostilidades.

Este processo observou vários momentos novos, tendo avançado decisivamente depois de um encontro entre o líder da UNITA, Isaías Samakuva, e o Presidente da República, João Lourenço, que se prontificou a empenhar-se pessoalmente para concluir ainda este ano a exumação e a transladação do corpo de Savimbi, permitindo que a família e o seu partido possam realizar as tão exigidas cerimónias tradicionais fúnebres na terra onde nasceu.

Jonas Savimbi nasceu a 03 de Agosto de 1934, em Munhango, Bié, embora em diversas declarações de responsáveis da UNITA seja feita referência à vontade de devolver o seu corpo à sua origem, no Andulo, igualmente no Bié.

Preso mesmo estando morto

No dia 04 de Agosto, Samakuva, num discurso alusivo ao 84º aniversário de Jonas Savimbi, disse não haver "razão alguma para que o Estado angolano mantenha Jonas Malheiro Savimbi preso, mesmo depois de morto".

E questionou: "Porque é que os restos mortais de Jonas Savimbi foram capturados pelo Estado angolano? Porque é que se prende um morto?".

Foi depois destas frases duras proferidas por Isaías Samakuva que o Governo deu alguns passos de abertura, mostrando estar disponível para encontrar uma solução rápida e fechar este capítulo do conflito militar no país, sendo a exumação e a transladação do corpo de Savimbi o mais pesado legado dessa mesma guerra para o partido que fundou, embora não seja o único.

E, antes de o Presidente da República ter garantido que ainda este ano o assunto estará ultrapassado, podendo esse ser um dos maiores passos a caminho da total reconciliação nacional, como a UNITA tem defendido, foi o Ministério do Interior que veio a público mostrar que essa disponibilidade existe.

Culpa da UNITA por processo não ter sido concluído?

Depois de o presidente da UNITA, Isaías Samukava, ter acusado o Estado angolano de manter Jonas Savimbi preso, mesmo depois de morto - por não "libertar" os seus restos mortais para um funeral condigno - o Governo esclareceu que o processo de exumação e inumação dos restos mortais do histórico dirigente esbarrou no facto de a direcção do "Galo Negro" não ter remetido ao Governo os documentos solicitados.

Através de um comunicado divulgado no dia 13 de Agosto, o Ministério do Interior (MinInt) faz um ponto de situação do processo de exumação e inumação dos restos mortais de Jonas Savimbi, iniciado em Dezembro de 2014, em resposta às recentes declarações de Isaías Samakuva sobre o assunto.

O MinInt começa por esclarecer que é o interlocutor do Executivo para tratar deste dossiê - papel assumido por indicação do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos -, cabendo-lhe articular com a direcção da UNITA.

No âmbito deste processo, e já em 2015, o "Galo Negro" apresentou "um caderno de encargos sobre as exéquias do Dr. Jonas Savimbi, que previa actividades até ao primeiro trimestre de 2016", lê-se na nota da instituição tutelada por Ângelo da Veiga Tavares.

O conjunto de acções traçadas pela UNITA incluía a realização de "diligências no sentido de ser localizado o sítio onde foi enterrado o general (António) Dembo", meta que passaria pela apresentação de um "cidadão que dizia que conhecia o local", algo que segundo o MinInt "não aconteceu".

"Para a materialização do exposto, ficou acordado que a Direcção da UNITA endereçaria uma carta ao Ministério do Interior para a sua formalização e submissão ao Executivo, o que não aconteceu", reforça a instituição.

Apesar de sublinhar que o "Galo Negro" não enviou os documentos que se tinha comprometido a entregar, o MinInt garante que o Governo mantém a disponibilidade para resolver o assunto, indicação que transmitiu, por carta, ao presidente da UNITA.