Agée Matembo, numa reacção dura face ao regresso de mais de 180 mil cidadãos da RDC que estavam, segundo as autoridades nacionais, em situação migratória ilegal em Angola, especialmente nas áreas diamantíferas, disse mesmo, em tom de aviso, que "o povo congolês é intransigente" quando confrontado com injustiças e exigiu que os responsáveis pelo "tratamento inumano" aos congoleses em Angola sejam "claramente punidos".

Lembrando que há milhares de angolanos refugiados na RDC, dando o exemplo dos mais de 20.000 na província do Katanga, Agée Matembo, citado pela Radio Okapi, afirmou que o Governo de Kinshasa vai chamar o embaixador angolano para dar explicações sobre o que se está a passar.

E uma das possibilidades mais claras, segundo o Governo de KInshasa, é responder duramente, com medidas reciprocas, dando, todavia, um prazo de 60 dias para os países com cidadãos seus refugiados na RDC tomem as medidas necessárias para o seu repatriamento, disse ainda Agée Matembo.

A RDC está a atravessar um período eleitoral complexo, com eleições gerais marcadas para 23 de Dezembro, que serão marcadas pela saída do poder do Presidente Joseph Kabila, e no qual uma posição de força face às "expulsões" de congoleses de países vizinhos é eleitoralmente vantajoso para o partido no poder e para o seu candidato à Presidência da República.

Nas últimas semanas, e no âmbito da "Operação Transparência", levada a cabo pela Polícia Nacional, mais de 180 mil congoleses que estavam ilegalmente nas províncias da Lunda Sul, Lunda Norte, Malange, Zaire, Bié e Uíge, deixaram o país, voluntariamente segundo as autoridades nacionais, "expulsos" na terminologia que o Governo congolês está a usar para se referir a estes casos.

O governante de Kinshasa lembrou, em conferência de imprensa, que o povo congolês é "hospitaleiro", mas, quando vê que princípios fundamentais são colocados em causa "sabe mostrar a sua intransigência".

Recorde-se que em 2009, depois de uma ordem aprovada no Parlamento de Kinshasa, quando ocorreu uma tensão entre os dois países por causa de uma disputa que envolvida direitos sobre a exploração de petróleo no mar de Cabinda, a RDC expulsou milhares de angolanos que viviam há décadas naquele país.

Essa ordem gerou uma das mais graves crises de refugiados em Angola, que obrigou a um esforço gigantesco para os acolher e a um sprint diplomático para evitar uma escalada da tensão, dando lugar à criação de uma comissão mista para solucionar aquele e futuras situações.

Agora, face aos resultado da "Operação Transparência", Agée Matembo lembra que se a decisão de Kinshasa passar por recorrer à reciprocidade e ordenar a expulsão dos mais de 20 mil angolanos que estão actualmente refugiados no Katanga, "isso será muito complicado", lembra Matembo.

Face a este cenário, onde começam a surgir sinais de que a RDC pode dar início a uma resposta, com a eventual expulsão de angolanos que vivem naquele país, na Lunda Sul, onde foram registados ataques xenófobos contra congoleses, incluindo comerciantes, a PN já veio a público garantir que não vão ser tolerados episódios desta natureza.

Este aviso surgiu depois de na semana passada terem sido agredidos vários cidadãos do Congo-Democrático na cidade de Saurimo, num cenário que indica estarem a existir aproveitamentos da operação em curso para a realização de ataques a cidadãos oriundos do país vizinho.

Os relatos de congoleeses que deixaram Angola nos últimos dias são pontuados por descrições de casos de violência protagonizada pelas forças policiais e militares angolanas, incluindo pilhagens e recurso a armas de fogo para os obrigar a deixarem as suas casas.