Manuel Vicente está acusado pela justiça portuguesa de estar envolvido na denominada "Operação Fizz" onde aparece como protagonista de um alegado suborno de um procurador português para obter facilidades no âmbito das investigações que estavam a decorrer sobre crimes ligadas à corrupção e branqueamento de capitais.

Face ao acelerar processual do caso em questão, que tem a primeira sessão de julgamento marcada para dia 22 deste mês, e que se deve prolongar por vários meses, o ministro Francisco Queiroz veio, na sexta-feira, tornar público que as autoridades angolanas e portuguesas estão a analisar a possibilidade de o caso Manuel Vicente ser transferido para Angola, conforme o acordo judiciário existente entre os dois países e inscrito no relacionamento entre os Estados que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

O ministro da Justiça sublinhou a importância de esta questão não ser tratada de forma menos clara e precipitada por forma a não prejudicar o que está a ser alvo de negociações bilaterais.

"Há um espaço para a transferência de processos. O assunto está a ser tratado e não seria prudente para ninguém fazer declarações precipitadas que possam ser objecto de leituras diversas, para não atrapalhar todo o trabalho que está a ser feito", disse o governante.

Sobre a possibilidade de Manuel Vicente ser efectivamente julgado em Angola, cuja acusação remonta ao tempo em que este presidia ao Conselho de Administração da Sonangol e muito antes de assumir responsabilidades governativas em Angola, Francisco Queiroz notou ser "

"É muito cedo para dizer isso, porque há apenas uma suspeição, mas esta suspeição é muito vaga, e não se pode trabalhar com base em juízos que assentem apenas em suspeições. Por isso, considero que ainda é prematuro falar de julgamento", afirmou o ministro, citado pela imprensa.

Recorde-se que há cerca de dois meses, o ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, foi peremptório quando se referiu a este caso como tendo o potencial de ferir gravemente as relações entre Portugal e Angola e que a cooperações entre os dois países no futuro poderia depender do desfecho deste episódio.

"Angola não se moverá nas acções de cooperação com Portugal", foi a frase utilizada por Manuel Augusto, no pressuposto de que a normalização do relacionamento está dependente do que suceder neste caso.

A transferência deste processo de Lisboa para Luanda não é uma possibilidade nova e tem estado subjacente ao discurso das autoridades angolanas ao longo do último ano, nomeadamente desde que ainda no arranque de 2017, foi suspensa, por causa deste caso, a visita da ministra da Justiça portuguesa a Angola, bem como a preparação da deslocação oficial do primeiro-ministro António Costa.