O Ministério das Finanças está autorizado a celebrar um contrato de compra e venda, incluindo as despesas inerentes ao mesmo, com a "empresa Angosteel - Construção Civil, Obras Públicas, Importação e Exportação Limitada, para aquisição de vinte e três pisos localizados no Empreendimento Torres da Cidadela, na Avenida Hoji Ya Henda, no distrito urbano do Rangel", na província de Luanda.

A informação consta do despacho presidencial n.º220/17, publicado em Diário da República no passado dia 3 de Agosto.

Segundo o documento, ao qual o Novo Jornal Online teve acesso, o negócio - em que "o pedido de fiscalização prévia deve ser submetido ao Tribunal de Contas" - responde à "necessidade de se proporcionar uma acomodação condigna aos quadros técnicos dos órgãos de Justiça, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República, o Supremo Tribunal Militar, a Procuradoria Militar, a Polícia Militar, bem como outras entidades do sector, visando uma maior eficiência e eficácia na prestação dos serviços prestados aos cidadãos".

O contrato enquadra-se "no processo de modernização da justiça", em que "a melhoria das condições de trabalho" é apontada como "uma das prioridades do Governo, com vista ao melhor desempenho das suas actividades".

Os valores do negócio não são indicados no despacho, sabendo-se apenas que a Angosteel tem como sócio o construtor português José Guilherme, popularizado como "Zé Grande".

Com uma quota de 37.055 kwanzas na Angosteel - que, segundo registos de Outubro de 2016 em Diário da República, tem um capital social de 370.550 kwanzas -, José Guilherme é um dos accionistas da Angosteel, negócio onde também participa o seu filho, Paulo Guilherme, com uma quota de 74.110 Kwanzas.

Pai e filho tornaram-se conhecidos em Portugal no âmbito de investigações à banca, que colocaram na ordem do dia a generosidade das prendas do construtor. Em causa estão ofertas a Ricardo Salgado, antigo presidente do Banco Espírito Santo e ao ex-presidente da Caixa Económica Montepio, António Tomás Correia - respectivamente no valor de 14 milhões de euros, e 1,5 milhão de euros -, alegadamente em troca de acesso privilegiado a financiamentos.

Só ao Novo Banco (antigo Banco Espírito Santo), José Guilherme terá acumulado dívidas de 200 milhões de euros.