Manuel Augusto esteve reunido com Joseph Kabila, a quem entregou uma mensagem do Presidente João Lourenço, que tinha estado com o seu homólogo congolês na semana passada, numa cimeira tripartida, no âmbito da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRG), em Kinshasa.

O encontro de Lourenço e Kabila, que contou ainda com Sassou N"Guesso, do Congo-Brazzaville, aconteceu a 14 deste mês, um dia depois dos confrontos entre as forças armadas da RDC e do Ruanda mas que ainda não eram do conhecimento público e não terão sido abordados no encontro entre os três Chefes de Estado.

Inesperadamente, no passado dia 13, as Forças Armadas da RD Congo (FARDC) e o Exército do Ruanda envolveram-se em violentas escaramuças, por causa de acusações recíprocas de violações de território, na área geográfica abrangida pelo parque nacional de Virunga, (Kivu Norte), tendo resultado em pelo menos em 10 mortos nas fileiras congolesas e, embora existam relatos de vítimas também do lado ruandês, não foram revelados detalhes.

Estes confrontos são levados muito a sério pelas organizações regionais, como a CIRGL, mas também a ONU e a União Africana, visto que ainda ninguém se esqueceu da década de 1990, quando o pequeno Ruanda, envolvido em forte instabilidade interna devido ao constante surgimento de guerrilhas fortemente armadas e violentas, invadiu por duas vezes o seu gigante vizinho, dando início aquela que ficou conhecida como a 1ª Guerra do Congo.

Mas também esteve no centro daquela que foi a mais mortífera guerra após a II Guerra Mundial, conhecido como a 2ª Guerra do Congo, país que serviu de palco para um confronto alargado que teve, segundo diversas fontes, de 1998 até 2003, de um lado a RDC, Angola, Namíbia e o Zimbabué, e do outro os três pequenos Estados dos Grandes Lagos, o Ruanda, o Uganda e o Burundi.

Milhões de pessoas morreram neste conflito, a maior parte de fome e de doenças, milhões de deslocados ficaram no rasto desta guerra e um pesado fardo para o futuro foi colocado sobre a cabeça dos Governos regionais que, até hoje, ainda não conseguiram libertar-se dos fantasmas gerados por este especialmente violento conflito.

Face a este passado e os recentes episódios de confrontos entre o Ruanda e as FARDC, este périplo do ministro das Relações Exteriores angolano pela RDC, Camarões e República Centro Africana, dificilmente não tem esta realidade no topo da agenda.

Isto, sabendo-se que as principais guerrilhas estrangeiras a actuar no interior da RDC, a ADF e a FDLR, são apoiadas ou são originárias do Uganda e do Ruanda respectivamente, mesmo com sucessivos desmentidos de que os governos destes países as apoiam.

Angola é um dos países mais empenhados na procura de entendimentos que evitem o alastrar deste conflito no Leste da RDC, porque, como principal vizinho a sul, com uma fronteira de mais de 2 000 km"s, seria um dos países mais afectados pelas consequências colaterais de uma nova guerra naquela região.

Mas Angola está desde a criação da CIRGL no centro dos esforços para acabar com os focos de guerrilhas no Leste da RDC, a maior parte deles por causa do controlo de regiões ricas em recursos naturais, como o coltão e os diamantes, a ponto de o Ruanda aparecer em listas internacionais de exportadores de coltão sem que sejam conhecidas reversas no seu território.

Esta investida diplomática de Angola nesta parte do continente africano, protagonizada pelo MIREX, Manuel Augusto, é feita enquanto enviado especial do Presidente da República de Angola, João Lourenço, cuja atenção àquela região é uma continuação da que o ex-Presidente José Eduardo dos Santos mantinha em permanência.

Foi mesmo o ex-PR angolano, na qualidade de presidente da CIRGL, que chamou a atenção, e apelou a isso, para a importância de os países da região enviarem contingentes militares para apoiar as Forças Armadas da RDC a expulsar as guerrilhas de origem estrangeira no Leste do país, numa referência clara às que são apoiadas pelo Ruanda.