"O Estado contraiu uma dívida de 3,1 mil milhões de dólares - 844 milhões só em Março último - para pagar as dívidas daqueles que pediam empréstimos ao BPC e não pagavam", referiu Samakuva em conferência de imprensa.

Isaías Samakuva acrescentou ainda que Banco de Poupança e Crédito teve prejuízos de 20 mil milhões de Kwanzas mas não declarou falência porque o Estado interveio e injectou dinheiro público para o salvar, apesar de grande parte desse dinheiro ser resultado de empréstimos concedidos a pessoas que não pagaram.

"Nos últimos dois anos, no mesmo banco, o Estado injectou 568 mil milhões de Kwanzas", disse, acrescentando que a última intervenção ocorreu agora, em Março de 2018, mas sem precisar o valor.

No que diz respeito às autarquias, Samakuva reiterou a realização a exigência das eleições autárquicas em todo país considerando ser "uma imposição constitucional, um dever e uma obrigação imposta ao Estado e não uma faculdade dos políticos".

"Assim como em 1975, Angola proclamou a independência sobre a totalidade dos municípios ao mesmo tempo, as eleições autárquicas também devem ter lugar em todo o território nacional", disse o presidente da UNITA, Isaías Samakva.

O líder do principal partido da oposição lembrou que o bloqueio à implementação das autarquias começou há muito tempo.

"Em 2010, aquando da aprovação da Constituição, a UNITA propôs que as autarquias fossem implementadas em 2012 mas disseram que não havia condições. Em 2011 diziam que seria 2014. Na verdade, o preço do petróleo estava alto e não queriam partilhar o dinheiro entre a administração central e poder local", argumentou.

Para o presidente da UNITA, "agora pressionados por todos, admitem implementar as autarquias em 2020, mas não fazê-lo em todos os municípios ao mesmo tempo".

O líder da UNITA denunciou que "a estratégia do partido no poder consiste em reforçar primeiro os poderes do MPLA em todos os municípios, através da administração local do Estado, e só depois proceder à descentralização político-administrativo em alguns deles".

"Esta estratégia é subversiva e fraudulenta, porque as administrações municipais não são poder local e a Constituição confere aos órgãos autónomos, não estaduais, do poder local, e só a eles, a competência de gerir assuntos públicos locais", justificou.

O presidente da UNITA advertiu que "os angolanos não devem aceitar a teoria do gradualismo territorial porque ela é apenas uma desculpa para o partido-estado continuar a centralizar a governação e delapidar o erário público".

"Administração local não é poder local. A descentralização não precisa da desconcentração prévia. O tempo dos administradores nomeados, sem autonomia e sem dinheiro acabou. Somos nós os cidadãos, e não o Estado, que devemos administrar os assuntos públicos locais e eleger os nossos governantes municipais", defendeu.

A árdua tarefa da Recredit

Recorde-se que o Governo criou em 2017 uma empresa pública para acolher todo o crédito malparado do sistema bancário público, a Recredit, no valor de 700 mil milhões de kwanzas, valor semelhante ao que o estado ali colocou.

No entanto, em declarações recentes, o administrador executivo da Recredit, Filipe Soares, garantiu que a empresa não vai comprar credito malparado sem garantia de recuperação.

"A Recredit não vai branquear a má gestão de bancos comerciais", advertiu Filipe Soares em declarações à RNA.