Esta é a segunda vez em cerca de um mês que o Chefe de Estado angolano se desloca à China, depois de ali ter estado, no início de Setembro, durante o Fórum de Cooperação China-África (FOFAC) e onde, pela primeira vez Angola, através do seu ministro das Finanças, Archer Mangueira, admitiu publicamente que a dívida à China ascende a mais de 23 mil milhões de dólares norte-americanos.

Como ponto forte desta visita de João Lourenço a Pequim está, segundo fontes governamentais citadas pela Lusa, a conclusão de um processo negocial para mais um empréstimo chinês a Angola que pode ascender a 10 mil milhões de dólares e que deverá ter, tal como os restantes, o petróleo como contrapartida, visto que, segundo os números mais recentes, Pequim importou de Angola, segundo a Angop, só nos primeiros seis meses deste ano, quase 6 mil milhões de USD, quase exclusivamente em crude, enquanto Angola importou cerca de 480 milhões USD em produtos diversos.

Este empréstimo surge no âmbito de uma investida internacional de Luanda para concluir um bolo total de 16, 5 mil milhões de dólares através de linhas de financiamento que permitam iniciar ou concluir diversos projectos no país e que esta visita pode ser a fase final das negociações que decorrem há meses.

Esta deslocação ao gigante asiático tem ainda como "picante" diplomático o facto de acontecer num momento em que as duas maiores economias mundiais, a China e os Estados Unidos da América (EUA) começam a dar dimensão e solidez a uma "guerra" pela conquista de influência em África que, sendo antiga, apenas no consulado do Presidente Donald Trump obteve reconhecimento dos corredores diplomáticos e estratégicos de Washington e onde Angola tem emergido como ponto de interesse para ambos os lados.

Isso mesmo ficou claro quando, há menos de 40 dias, João Lourenço esteve na China para o III FOFAC, as estruturas económicas de ligação empresarial dos EUA a Angola não pouparam esforços para realizar iniciativas bilaterais, sendo também já evidente essa "nova guerra fria" com cenário africano entre Pequim e Washington nas colunas de opinião e análise da grande imprensa mundial.

Para esta visita à China, Lourenço, que vai encontrar-se com o seu homólogo Xi Jinping, leva uma comitiva de largo espectro, onde pontuam, para além do ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, e das Finanças, Archer Mangueira, dois ministros de Estado, Manuel Nunes Júnior, do Desenvolvimento Económico e Social, e Frederico dos Santos Cardoso, chefe da Casa Civil do Presidente da República.

Os ministros da Construção e Obras Públicas, Transportes e Energia e Águas também integram esta larga comitiva a caminho da China.

Para além do empréstimo e da renegociação da dívida, Angola pretende obter da China mais investimento directo de empresas chinesas com o objectivo de aumentar a produção nacional de bens de consumo, que permita a transferência de tecnologia e a formação de quadros nacionais.

Mas a questão da renegociação da dívida emerge como ponto central deste xadrez, até porque Angola está afogada economicamente nas obrigações para com a dívida externa, tendo, como medida de emergência, pedido ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um pedido de ajuda financeira - na ordem dos 4,5 mil milhões USD - e técnica, onde se salienta a forma de erguer políticas económicas que deixem espaço para aliviar do sufoco da dívida, que consome mais de metade do OGE deste ano.

Mas João Lourenço, como o seu Executivo admitiu durante o III FOFAC, está também de olho na parte que lhe poderá caber dos 60 mil milhões USD que a China disse ter disponível para investir em África com vista ao seu desenvolvimento.

Segundo a Angop, o PR deverá visitar algumas empresas chinesas durante esta visita, como é o caso da multinacional de tecnologias Huawei, sob pretexto desta instalar brevemente, em Angola, um centro de referência tecnológico para montagem de smartphones, computadores e outros equipamentos.