Eleito número dois do MPLA em Agosto de 2016, oficializado no início deste ano como candidato do partido à Presidência da República e eleito Chefe de Estado no passado dia 23 de Agosto, João Lourenço cumpriu, em menos de um ano, a trajectória política interrompida em 2001.

Foi nesse ano que, já com o enterro do machado de guerra em curso, José Eduardo dos Santos, então há 22 anos no poder, manifestou a intenção de abandonar a política.

"Eu acredito que cumpri o meu dever. O partido deve preparar o seu candidato e este candidato não será José Eduardo dos Santos", disse o Chefe de Estado cessante em 2001, na abertura de uma reunião do Comité Central do MPLA.

Na altura, o presidente dos "Camaradas" calculou que as eleições seguintes aconteceriam em "2002, talvez em 2003", o que daria ao partido no poder "pelo menos um ano e meio ou dois para preparar o seu candidato para a batalha eleitoral".

Com a saída de José Eduardo dos Santos no horizonte, o nome de João Lourenço começou a circular como candidato à sucessão, visibilidade que o acabou por "condenar" a uma "travessia no deserto" quando o presidente do MPLA decidiu continuar na Cidade Alta.

Teria João Lourenço, à época secretário-geral do MPLA, caído numa armadilha especialmente montada para travar possíveis adversários de José Eduardo dos Santos na luta pelo poder?

Certo é que precisou de esperar mais de uma década para regressar à ribalta política, consumada com a nomeação para ministro da Defesa.

O regresso à linha da frente do partido, em Abril de 2014, encerrou uma longa trajectória à sombra de Fernando Dias Piedade dos Santos na Assembleia Nacional, onde ocupou, a partir de 2003, o lugar "invisível" de 1.º vice-presidente do Parlamento.

Agora no mais alto cargo da nação, João Lourenço tem pelo menos cinco anos para demonstrar as capacidades de liderança que manifestou ter em 2001, quando revelou a ambição de substituir José Eduardo dos Santos.

"Venho sendo preparado e vou-me preparando para exercer a função"

Dezasseis anos depois dessa partida em falso, o Chefe de Estado eleito garante estar pronto para o desafio, para o qual diz ter sido preparado bem antes do anúncio oficial da sua candidatura presidencial, oficializada no passado mês de Fevereiro.

"Venho sendo preparado e vou-me preparando para exercer a função. Hoje foi a confirmação de algo que internamente, a nível da direcção do partido já era praticamente um dado adquirido. Estou preparado para aceitar o desafio que o Presidente José Eduardo dos Santos e o partido colocam nas minhas mãos, e tudo farei para honrar a confiança que em mim foi depositada", declarou João Lourenço, nessa ocasião.

Meses mais tarde, em meados de Julho, na única grande entrevista que concedeu à imprensa angolana desde que entrou na corrida presidencial, o sucessor de José Eduardo dos Santos prometeu um estilo de governação diferente.

"Embora sejamos ambos da mesma família política e pertençamos ao mesmo partido, a verdade é que não podemos pretender que tenhamos um estilo de governação exactamente igual. Haverá diferenças", antecipou o ex-ministro da Defesa, descartando contudo possíveis dissonâncias.

"Haver diferenças não é mal nenhum. O importante é que não haja desvios dos grandes objectivos do MPLA".