Desde populares, que discutem, nos táxis ou nas cantinas, o discurso proferido ontem por João Lourenço (JLO), em que o PR, durante a abertura do ano agrícola, no Catchiungo, Huambo, se comprometeu a iniciar o processo de cadastramento das terras do país, para depois serem atribuídas aos camponeses que já as cultivam, a engenheiros agrónomos e economistas, que elogiam as promessas de JLO, todos consideram que a agricultura é a aposta certa para ajudar o país a sair da crise.

O Novo Jornal Online ouviu e registou este optimismo da sociedade civil, num momento em que o Presidente da República parece estar em estado de graça, abarcando todas as esperanças do povo angolano.

"Não me lembro de o ex-Presidente, José Eduardo dos Santos, ter aberto uma campanha agrícola", constatou o engenheiro agrónomo Matias Moxi, afirmando que "João Lourenço começou já a dar passos significativos".

O engenheiro agrónomo salienta que a "economia angolana, praticamente dependente do petróleo, precisa de diversificação".

O seu colega, Almeida Sapalo Ngueve, admite também que Angola dependeu essencialmente da produção petrolífera, mas acredita ser previsível que o sector agrícola e pecuário venha a ocupar um lugar de relevo na economia angolana, gerando riqueza e emprego.

"Com este passo do novo Presidente da República começa a fazer renascer a confiança para o relançamento do sector agrícola", apontou, lembrando que a agricultura em Angola até 1973 satisfazia a maior parte das necessidades alimentares do mercado nacional.

"Toda a gente, especialmente os governantes, ficaram vaidosos com o petróleo. Hoje, a agricultura em Angola caracteriza-se por produções agrícolas de valores muito baixos e o país gasta elevados recursos financeiros na importação de alimentos", lamentou.

O economista Amaral Kiame Pedro considera a agricultura como sector determinante para a diversificação da economia: "O processo de diversificação da economia do País passa, necessariamente, pela formação e o incentivo às famílias camponesas. O Governo cessante abandonou os camponeses. Como é que podia ter bons resultados na diversificação da economia?", questiona.

Segundo o economista, o Executivo de João Lourenço deve acelerar a assistência técnica, de maneira a que as famílias possam ter conhecimentos adequados para produzir mais e melhor.

"Dei-me conta da alegria dos camponeses do Huambo. Isso dá créditos ao novo Presidente que, na sua primeira deslocação, preferiu interagir com os camponeses", assinalou.

"Defendemos sempre, eu e outros colegas, que a agricultura familiar é um dos sectores-chave para a diversificação da economia e constitui uma ferramenta importante na política macroeconómica da criação de um número significativo de empregos", acrescentou, chamando a João Lourenço "Presidente amante do campo".

Também o representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em Angola, Mamoudou Diallo, que esteve ontem na província do Huambo com o PR, na abertura da campanha agrícola 2017/2018, se mostrou optimista quanto ao aumento dos níveis de produção agrícola no país, ressaltando o discurso de JLO, afirmando que "contém linhas orientadoras e estratégicas para catapultar o país na rota do desenvolvimento económico e social".

"Angola precisa de mais de 4 mil milhões USD para investir até 2020, o que representa um investimento anual de 638 milhões USD no sector agrícola", disse Mamoudu Diallo, durante o seminário sobre segurança alimentar e nutrição promovido pelo Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural, que decorre no Lubango.

Para que se cumpra tal objectivo, o alto funcionário das Nações Unidas defendeu ser necessário desenvolver-se alternativas para angariação de fundos. "Temos de trabalhar juntos e encontrar as formas de angariar, se pretendemos alcançar os objectivos do milénio para Angola e um crescimento mínimo de 8% na agricultura".

Mas Mamoudou Diallo deixou um alerta: "A actividade agrícola no país deve ser bem fiscalizada, para que, assim, se possam gerir melhor as receitas, beneficiando a comunidade".

Já o reformado Costa Cavula, de 67 anos de idade, diz que "este é o Chefe de Estado que os angolanos necessitavam. O homem identificou o que é que importante neste momento para Angola".

Na opinião de Costa Cavula, o país conviveu "com governantes que desrespeitaram um sector vital da economia e espera que "João Lourenço recoloque o comboio nos carris".

"O Governo declarou guerra a organizações não-governamentais que o ajudariam a relançar a agricultura. Enfim, foi uma governação desastrosa", lamentou.

Dados da campanha agrícola 2015/2016 referem que o país tem uma disponibilidade de 35 milhões de hectares de terras aráveis para a prática da agricultura, sobre uma superfície cultivada de cinco milhões de hectares (14%), faixa irrigável de sete milhões de hectares da sua área total, dos quais 3,4 milhões de exploração tradicional.

Angola tem uma rede hidrográfica constituída por 47 bacias e com um potencial hídrico estimado em 140 mil milhões de metros cúbicos.