Uma nova fase da cooperação económica e técnica e um documento que visa relançar a formação de recursos humanos angolanos são os outros dois instrumentos jurídicos que vão moldar as relações entre Luanda e Pequim nos próximos anos.

De acordo com fontes do Executivo angolano citadas na imprensa nos últimos dias, com esta visita de Estado de João Lourenço à China, onde se vai encontrar com o seu homólogo Xi Jinping, Luanda deverá obter mais um empréstimo que pode chegar aos 10 mil milhões de dólares com os quais pretende desenvolver novos projectos no âmbito das infra-estruturas públicas.

Eram, de acordo com os enviados da Angop a Pequim, cerca das 09:00 locais, 02:00 em Angola, quando João Lourenço e a sua comitiva chegou a Pequim, a segunda deslocação à China em pouco mais de um mês, depois de ter estado neste país no início de Setembro para participar no III Fórum de Cooperação China-África (FOFAC), onde se ficou a saber que o Governo chinês tem disponíveis 60 mil milhões de USD para apoiar investimentos no continente africano.

João Lourenço e a sua mulher, Ana Dias Lourenço, foram recebidos pelo ministro assistente dos Negócios Estrangeiros, Chen Xiaodong, e pelo ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto.

O ponto alto do programa oficial é o encontro entre os dois Chefes de Estado, Lourenço e Jinping, e o encontro oficial das delegações de Angola e da China, que integram vários ministros, com enfoque especial nos da área económica e financeira, arcados para amanhã, terça-feira.

Na quarta-feira, João Lourenço preenche a sua agenda com a visita ao Centro Tecnológico da Huawei, o gigante tecnológico mundial, e ainda outros centros económicos na região de Tianjin.

Estas visitas reforçam o interesse do Governo de João Lourenço no investimento chinês e na transferência de tecnologia para Angola com a qual pretende apoiar o desenvolvimento económico do país, essencial para ultrapassar a grave crise económica que vive desde 2014, ano em que a derrocada no preço do petróleo teve início.

Para ajudar nesse esforço, Luanda procura um novo empréstimo, cujos contornos deverão ficar definidos nestes dois dias, perfazendo um total de 10 mil milhões USD.

Este empréstimo surge no âmbito de uma investida internacional de Luanda para concluir um bolo total de 16, 5 mil milhões de dólares através de linhas de financiamento que permitam iniciar ou concluir diversos projectos no país e que esta visita pode ser a fase final das negociações que decorrem há meses.

Esta deslocação ao gigante asiático tem ainda como "picante" diplomático o facto de acontecer num momento em que as duas maiores economias mundiais, a China e os Estados Unidos da América (EUA) começam a dar dimensão e solidez a uma "guerra" pela conquista de influência em África que, sendo antiga, apenas no consulado do Presidente Donald Trump obteve reconhecimento dos corredores diplomáticos e estratégicos de Washington e onde Angola tem emergido como ponto de interesse para ambos os lados.

Isso mesmo ficou claro quando, há menos de 40 dias, João Lourenço esteve na China para o III FOFAC, as estruturas económicas de ligação empresarial dos EUA a Angola não pouparam esforços para realizar iniciativas bilaterais, sendo também já evidente essa "nova guerra fria" com cenário africano entre Pequim e Washington nas colunas de opinião e análise da grande imprensa mundial.

Para esta visita à China, Lourenço, que vai encontrar-se com o seu homólogo Xi Jinping, leva uma comitiva de largo espectro, onde pontuam, para além do ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, e das Finanças, Archer Mangueira, dois ministros de Estado, Manuel Nunes Júnior, do Desenvolvimento Económico e Social, e Frederico dos Santos Cardoso, chefe da Casa Civil do Presidente da República.

Os ministros da Construção e Obras Públicas, Transportes e Energia e Águas também integram esta larga comitiva a caminho da China.

Para além do empréstimo e da renegociação da dívida, Angola pretende obter da China mais investimento directo de empresas chinesas com o objectivo de aumentar a produção nacional de bens de consumo, que permita a transferência de tecnologia e a formação de quadros nacionais.

Mas a questão da renegociação da dívida emerge como ponto central deste xadrez, até porque Angola está afogada economicamente nas obrigações para com a dívida externa, tendo, como medida de emergência, pedido ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um pedido de ajuda financeira - na ordem dos 4,5 mil milhões USD - e técnica, onde se salienta a forma de erguer políticas económicas que deixem espaço para aliviar do sufoco da dívida, que consome mais de metade do OGE deste ano.

Mas João Lourenço, como o seu Executivo admitiu durante o III FOFAC, está também de olho na parte que lhe poderá caber dos 60 mil milhões USD que a China disse ter disponível para investir em África com vista ao seu desenvolvimento.