No seu comentário semanal no Jornal da Noite da TPA, ontem, 4, Vicente Pinto de Andrade começou por classificar de "vergonha" nacional a discussão sobre o carro dos deputados.

Para o parlamentar, os Lexus viraram um acontecimento nacional muito por culpa das redes sociais e de alguma comunicação social, que aponta como catalisadores de um "preconceito que se está criar na nossa sociedade", não só em relação aos deputados mas também em relação a outros titulares de cargos públicos.

"Quando se estimulam essas coisas ao nível da comunicação social, e se procura identificar os privilegiados quando não são privilegiados nenhuns, isso cria problemas, cria fracturas", lamentou o deputado, acrescentando que até estourar esta polémica para si os Lexus passavam despercebidos.

"Não sabia que existia essa marca, depois é que me apercebi que me cruzei muitas vezes com carros que eram os tais Lexus. Para mim eram um carro normalíssimo", reforçou, revelando que é proprietário de um Hyundai Accent, que considera desadequado para se deslocar à Assembleia Nacional.

"Sinceramente, eu entrar no Parlamento com aquele Hyundai Accent realmente seria uma chacota", disse o deputado do MPLA, defendendo que "nós temos de aprender a dignificar as instituições" nacionais.

"As instituições, quaisquer que elas sejam, e em que país for, têm de ser dignificadas. E então como é que se quer ver um Presidente ou um Juiz do Tribunal de bicicleta?", questionou.

O histórico militante do MPLA lembrou que os deputados têm de ter preocupações de imagem.

"Eu gosto de andar de sandálias, no Parlamento não posso andar de sandálias", apontou.

Questionado pela jornalista sobre "se essas questões são tão relevantes assim" para a missão parlamentar de servir os interesses do povo, Vicente Pinto de Andrade respondeu: "Esse discurso está-me a fazer lembrar sabe o quê? Aquele período tipo 27 de Maio".

Para o deputado, o "discurso que está a ser feito agora em relação aos chamados Lexus é demagógico", tal como era demagógico o discurso de Nito Alves, quando apregoava que "Angola só seria independente, quando todos, mestiços, bancos e pretos, varressem as ruas".

Na sua alocução final sobre o tema, Vicente Pinto de Andrade rematou: "Viu-se o que custou a demagogia, a ele próprio [Nito Alves] e a outras pessoas".