João Lourenço voltou a marcar de forma clara a agenda política nacional ao convidar membros de várias organizações da sociedade civil, onde pontificam alguns nomes que estiveram durante anos proscritos e foram mesmo acusados de "traição à Pátria", como Luaty Beirão ou Rafael Marques, para um encontro de trabalho e enquanto líderes de organizações da sociedade civil e não-governamentais, para com ele analisarem "questões de actualidade".

A Casa Civil do Presidente da República informou, esta segunda-feira, numa nota de imprensa, que, além de Rafael Marques, pela Fundação Open Society Angola, e de Luaty Beirão e Alexandra Simeão, ambos pela associação Handeca, estarão também presentes representantes de instituições ligadas à defesa dos direitos humanos, desenvolvimento rural, direito e promoção da juventude, como a Associação Justiça, Paz e Desenvolvimento (AJPD), representada por Fernando Macedo, a Associação Mãos Livres, representada por Salvador Freire, e a OMUNG, por José Patrocínio.

O Centro Cultural Mosaiko, a Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), a AMANGOLA e os Conselhos Nacional e Provincial da Juventude foram outras das associações convidadas.

O antigo vice-presidente da UNITA, Ernesto Mulato, considerou tratar-se de "um verdadeiro acto" de reconciliação nacional este encontro do Presidente da República com representantes de Organizações Não Governamentais (ONG) e de associações da sociedade civil.

Ao NJOnline, o também terceiro vice-presidente da Assembleia Nacional disse que se trata de "um passo muito importante para a reconciliação nacional porque as personalidades convocadas jogam um papel preponderante na sociedade"

"É acontecimento inimaginável na era do seu antecessor", disse Mulato, referindo-se aos anos de governação de José Eduardo dos Santos.

De acordo com o deputado, o maior partido da oposição acredita que os vários pendentes entre o Governo e a sua organização serão resolvidos o mais rápido possível, como, por exemplo, "finalmente cumprir-se o Protocolo de Lisaka".

"O protocolo de Lusaka nunca foi cumprido na totalidade, temos a situação dos ex-militares, do património, uma série de compromissos que acreditamos que com o novo Presidente, a situação terá pernas para andar", garantiu.

Na sua opinião, "os críticos não podem ser mal entendidos porque podem ajudar o próprio Governo a corrigir algumas irregularidades na administração do País".

O secretário para a informação do MPLA, Paulo Pombolo lembrou que o Presidente da República está a aplicar aquilo que prometeu no acto da tomada de posse, de que iria "trabalhar com todos para o bem do País".

"O Presidente da República quer trabalhar com a sociedade civil que joga um papel muito importante no desenvolvimento do País com a suas sugestões e contribuições", acrescentou, salientando que "a actual governação é participativa e transparente".

Segundo o porta-voz do MPLA, a participação da sociedade civil em vários assuntos no País "é importante para a construção de uma democracia sólida e participativa".

"O Presidente da República está aberto com todos os angolanos. Cada um deve fazer o seu papel para o desenvolvimento do nosso País", concluiu.

O presidente do PRS, Benedito Daniel, elogiou a iniciativa do Presidente da República, sublinhando que " a antiga administração teve má leitura da sociedade civil".

"Para o antigo Governo, a sociedade civil era adversária e isso criou muitos problemas que bem podiam ser resolvidas internamente", explicou, adicionando que "se encontros do género continuarem haverá no País uma unidade sem precedentes".

O membro da CASA-CE, Alberto André Muanza, enalteceu a iniciativa e espera que estes tipo de encontros sejam permanentes.

"É uma grande lição para quem não fazia isso. Com estes encontros, os angolanos conseguirão resolver os seus problemas", salientou.

Segundo Muanza, se houvessem encontros permanentes com a sociedade civil, "muitas situações complicadas e que deram má imagem a Angola, poderiam ter sido resolvidas internamente".