O principal motivo da visita é um encontro com o Presidente angolano, na qualidade de presidente rotativo do Órgão para Politica, Defesa e Segurança da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e em cima da mesa, como principal ponto da agenda, vai estar a situação do país vizinho e a preparação das eleições.

Esta visita de Mnangagwa a Luanda, para conversações com o líder da Organização para a Política, Defesa e Segurança da SADC, surge num momento em que o seu cargo está a sofrer forte contestação a vários níveis, como é disso exemplo uma recente entrevista do antigo ministro zimbabueano do Ensino Superior, Jonathan Moyo, a um programa de debate da BBC, "Hard Talk", onde este considera a administração do Presidente interino como "ilegítima".

Como o site do jornal New Zimbabwe refere em notícia divulgada hoje, para além da posição de Moyo, que tem sustentação entre uma parte da oposição e da elite intelectual do país, também a recente visita, que não foi anunciada pela Presidência zimbabueana, à África do Sul terá sido falhada ao não obter o reforço de legitimação do seu cargo naquele país, sendo que o Presidente Jacob Zuma é o actual líder da SADC.

Mnangagwa é acusado de ter assumido o cargo no contexto de um golpe militar ilegal que abrigou o Presidente Robert Mugabe a resignar sob pressão.

Mas, apesar deste contexto, dificilmente os dois Presidentes deixarão de discutir outros assuntos importantes para a sub-região, como seja a instabilidade política na África do Sul e a crise no Lesoto, por exemplo, mas também questões partilhadas pelos dois países, como é disso exemplo o facto de ambos terem optado, no Zimbabué já em curso e em Angola a ser preparada, pelo estabelecimento de moratórias para o repatriamento de capitais levados para o exterior por cidadãos nacionais e a oportunidade de, com substanciais perdões, poderem regularizar as suas situações fiscais.

Mnangagwa ocupou a Presidência no Zimbabué, em Novembro, depois da saída de Robert Mugabe, na sequência de uma intervenção militar que obrigou à sua resignação ao cargo e duas semanas depois de ter sido demitido da vice-Presidência do país por pressão de Grace Mugabe, antiga primeira-dama com claras pretensões à sucessão do marido e Presidente, Robert.

Recorde-se que Mnangawa, que foi um longo "compagnon de route" de Mugabe, logo após assumir o poder, afirmou que iria proporcionar uma moratória de três meses para que o dinheiro, tendo mesmo utilizado a expressão, roubado ao país seja devolvido, com absoluta liberdade e sem perseguição judicial, mas tendo acrescentado que se não fosse aproveitada a oportunidade, até Março deste ano, "o longo braço da lei entraria nas casas" dos prevaricadores.

Na informação divulgada pela Casa Civil do Presidente da República, este tema não é apontado como estando na agenda, sendo "o estado de preparação das eleições presidenciais, com vista a legitimar a transição em curso" no Zimbabué a razão que justifica esta visita de Emmerson Mnangagwa a Luanda.

O Presidente interino do Zimbabué já foi anunciado como candidato presidencial da ZANU-PF, partido que governa o país desde a sua independência em 1980 e, ao que indicam as notícias hoje divulgadas pela imprensa internacional, o candidato da oposição nos últimos pleitos, Morgan Tsvangirai, não deverá ser entrar na corrida prevista para os próximos meses.

Esta possibilidade deve ser igualmente discutida por Mnagagwa e Lourenço no encontro de sexta-feira em Luanda, até porque se Tsvangirai, que é de longe a figura da oposição mais destacada da história do Zimbabué, não avançar, por razões médicas - sofre de uma doença oncológica - muito provavelmente este será um novo foco de tensão em Harare, com consequências imprevisíveis.

Para além de respeitado, Tsvangirai é um moderado no universo da oposição zimbabueana.