Em declarações aos jornalistas, à margem da XXIII Cimeira Ibero-Americana, na Cidade do Panamá, o chefe de Estado português adiantou que na terça-feira à tarde "ocorreram contactos" entre o seu gabinete e o gabinete do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, e que "a conversa correu bem".

Questionado sobre a que "mal entendidos" e "eventuais desinformações" se estava a referir, o Presidente da República Portuguesa respondeu que não é altura de os "avivar", mas sim de trabalhar para os ultrapassar. "Eu não irei avivar nada daquilo que pode eventualmente ter estado por detrás desses mal entendidos", acrescentou.

Segundo Cavaco Silva, "quando as relações entre dois países são muito intensas, como é o caso de Portugal e de Angola, por vezes surgem mal entendidos".

"Eu estou seguro de que esses mal entendidos vão ser ultrapassados. É essa a vontade das autoridades portuguesas, e estou certo de que será também essa a vontade do Presidente José Eduardo dos Santos, que sei que tem um grande apreço pelo povo português", afirmou.

"As relações muito especiais que existem entre Portugal e Angola não podem ser postas em causa por mal entendidos ou por eventuais desinformações que venham a público, quer em Portugal, quer em Angola. E é nesse sentido que eu irei continuar a trabalhar", reforçou.

O Presidente da República Portuguesa começou estas declarações assumindo-se como "um defensor activo do fortalecimento das relações de amizade e de cooperação entre Portugal e Angola", apontando as "relações intensas entre os dois" como "mutuamente benéficas" e qualificando os angolanos e portugueses como povos amigos.

Em seguida, Cavaco Silva referiu-se aos responsáveis políticos angolanos, aos empresários angolanos que investem em Portugal, aos empresários portugueses presentes em Angola e às comunidades emigrantes portuguesa e angolana nos dois países.

"Os agentes políticos angolanos, escolhidos pelo povo em eleições consideradas livres e justas pela comunidade internacional, merecem todo o nosso respeito", considerou.

Quanto aos empresários angolanos, defendeu que Portugal deve acolhê-los "com a mesma abertura e o mesmo respeito com que os empresários portugueses são acolhidos em Angola" e que "o investimento estrangeiro, incluindo o investimento de origem angolana, é importante para o crescimento económico português e para a criação de emprego em Portugal".

O chefe de Estado português falou também do papel dos empresários portugueses presentes em Angola: "Devem continuar a contribuir para o desenvolvimento de Angola e para a melhoria do bem-estar da população, no respeito pelas orientações e pelas prioridades definidas pelo Governo angolano. Os empresários portugueses devem contribuir, cooperar para o fortalecimento e a melhoria da competitividade da classe empresarial angolana."

"Não podemos esquecer que Angola é o nosso quarto cliente, que vivem e trabalham em Angola mais de 100 mil portugueses. Existe também uma comunidade angolana forte em Portugal, e Portugal é também um mercado importante para a produção angolana", assinalou.

"Eu estou seguro de que as actuais dificuldades irão ser ultrapassadas", concluiu.

Interrogado se já tinha falado com o Presidente de Angola, declarou: "Na terça-feira à tarde, ocorreram contactos entre o meu gabinete e o gabinete do Presidente José Eduardo dos Santos. É assim que as coisas devem ser tratadas, e de forma discreta."

Segundo Cavaco Silva, "a conversa correu bem entre os dois gabinetes".

Quanto à existência ou não de cooperação estratégica entre Portugal e Angola, afirmou: "Foi um assunto que eu tratei com o Presidente da República de Angola quando fiz a minha visita oficial. Eu estou convencido de que as relações entre Portugal e Angola, ultrapassadas estas dificuldades, irão continuar no sentido de um fortalecimento cada vez mais estreito, em todos os domínios: no domínio económico, no domínio social, no domínio da educação, da saúde, e também no diálogo político. É isso que eu espero."

O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, considerou na terça-feira que "o clima político actual" da relação entre Portugal e Angola "não aconselha à construção da parceria estratégica antes anunciada" entre os dois países.

Através de uma nota divulgada na terça-feira, o Governo português manifestou surpresa com as palavras do Presidente angolano sobre a relação entre Portugal e Angola e reiterou a importância e o "alcance estratégico" que tem atribuído a esse relacionamento bilateral.

Lusa / NJ