Joseph Kabila não pode, de acordo com a Constituição, porque já cumpriu dois mandatos, desde 2011, recandidatar-se nas eleições gerais que estão marcadas para 23 de Dezembro deste ano, mas o problema é que a oposição não está convencida de que já desistiu desse intento.

O facto de a RDC ser o país claramente mais instável da Região dos Grandes Lagos, e de esta reunião entre os três Chefes de Estado ter como moldura a liderança angolana da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), o futuro político de Kabila é fundamental na definição do futuro da região, até porque em cima da mesa estão ameaças sólidas da oposição interna de que se este não sair, a violência vai voltar às ruas de Kinshasa e das grandes cidades do país.

Recorde-se que foi a tentativa de Kabila, a quem não faltam razões para continuar no poder, para alterar a Constituição, no início de 2015, que deu origem a um surto de violência esporádica que durou até Dezembro de 2017 e fez várias centenas de mortos, sempre com a questão da procura, através de expedientes, por Kabila de uma justificação para não deixar o poder.

No entanto, esta questão pode ter sido esvaziada recentemente por declarações do ministro das Comunicações, lambert Mende, onde este afirma que Kabila não pretende insistir na sua recandidatura ao cargo de Presidente da República nas eleições de 23 de Dezembro, nova data para a ida às urnas na RDC, depois de esta já ter sido adiada uma vez, para Dezembro de 2017, quando deveriam ter tido lugar em Dezembro de 2016.

A questão da transição democrática na RDC é fundamental para que seja possível estabilizar o país, mantendo a unidade nacional que está claramente ameaçada em diversas províncias, com destaque para as do Leste, Kivu Norte. Kivu Sul e Ituri, que fazem fronteira com o Uganda, Burundi e Ruanda, países de onde são originárias as mais violentas guerrilhas activas na RDC, como a ADF (Uganda) ou a FDLR (Ruanda), ou ainda o famigerado Movimento 23 (M-23), todas em luta por territórios ricos em recursos minerais, como os diamantes e o coltão, entre outros.

A questão é de tal modo grave que o ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, na qualidade de presidente da CIRGL, apelou aos países africanos para enviarem forças militares para apoiar as Forças Armadas da RDC (FARDC) a combater as guerrilhas estrangeiras e a consolidar o seu território e as suas fronteiras.

Recorde-se que o próprio Presidente Kabila afirmou, numa das últimas vezes que se dirigiu ao Parlamento, que a instabilidade na RDC tem potencial para interferir negativamente na vasta região dos Grandes Lagos, mas também em todo o continente africano.

Com cerca de 76 milhões de habitantes, o Congo-Kinshasa é um gigante situado no coração da África Central, tendo ainda a norte países com igualmente forte instabilidade, como a República Centro-Africana ou o Sudão do Sul, atravessando sérias crises de violência em quase todas as suas 26 províncias, e igualmente surtos de grande dimensão de doenças como a cólera, a malária ou ainda cíclicos ressurgimentos de ébola.

É ainda de lembrar que as três províncias do Grande Kasai, na fronteira com Angola, viveram no último ano uma situação de grande violência provocada pelas milícias de Kamwina Nsapu, e que deu origem a mais de 1500 mortos, 1,3 milhões de deslocados internos e mais de 40 mil refugiados que procuraram abrigo em Angola, na Lunda Norte.

Este é o cenário que nem João Lourenço nem Dennis Sessou N"Guesso querem ver degradar-se ainda mais devido à proximidade geográfica, sabendo-se igualmente que um novo adiamento das eleições, ou uma eventual procura de recandidatura de Kabila, serão o rastilho imparável para que esse cenário surja diante de todos.