Isaías Samakuva falava aos jornalistas esta quinta-feira, 13, antes da chegada a Luanda dos restos mortais do general Arlindo Chenda Pena "Ben Ben", antigo vice-chefe do Estado-Maior das FALA, o então exército da UNITA, e que chegou a ser adjunto do chefe do estado Maior das Forças Armadas Angolanas (FAA) após uma breve reconciliação entre os dois movimentos.

Por outro lado, e questionado pela agência Lusa sobre se os restos mortais de Jonas Savimbi serão o próximo passo da UNITA e serão inumados até ao final deste ano, Samakuva salientou que esse era o desejo inicial, mas admitiu que existem "questões que têm de ser agilizadas", pelo que só em 2019 será possível concretizar.

"Sim, diria que é o próximo passo, mas olhemos para Angola. Estamos a falar de alguns casos apenas. Há outros casos, uns que são parentes da UNITA e outros do MPLA, outros que não são parentes nem da UNITA nem do MPLA. É preciso que olhemos para Angola no seu todo e é a Angola no seu todo que precisa desta reconciliação", afirmou.

"O Governo, o Estado, tem de parar e reflectir para estes funerais ainda por fazer. Tem de se fazer com que as famílias por toda a Angola, que estão a precisar ainda das certidões de óbito dos seus parentes, um dia se sintam também descansadas com aquilo que se está a fazer. Há sempre um ponto de partida", acrescentou.

Sobre a recuperação dos restos mortais do primeiro presidente da UNITA, Samakuva lembrou que até o Presidente da República, João Lourenço, tinha concordado em realizar o processo todo até ao final do ano em curso, mas que tal não será possível.

"Era o desejo de todos nós. O presidente tinha concordado com isso, mas há, aqui, agora, trabalhos que estão a ser feitos e, na prática, parece que o calendário até ao fim do ano não vai dar. Há várias questões que têm de ser agilizadas e, por conseguinte, estamos a olhar para um período para além do fim do ano", disse, sem especificar.

O líder "histórico" da UNITA nasceu a 3 de Agosto de 1934, no Munhango, a comuna fronteiriça entre as províncias do Bié e Moxico, e viria a ser morto em combate após uma perseguição das Forças Armadas Angolanas a 22 de Fevereiro de 2002, próximo de Lucusse, na província do Moxico, onde os seus restos mortais permanecem sepultados, à guarda do Estado angolano.

Virar a página e olhar em frente

Sobre "Ben Ben", que estava sepultado num cemitério em Zandfontein, próximo de Pretória, o actual líder da UNITA, maior partido da oposição, destacou o apoio do Presidente João Lourenço depois de anos em que tudo parecia "impensável".

"Temos todos de reconhecer, não só o facto de ter sido possível, hoje, trazer o corpo do general Ben Ben para Angola, como também que tudo se processou de uma forma bastante rápida quando, ao longo desse tempo todo, parecia ser impensável fazer-se este acto hoje. É importante quando estamos a falar da reconciliação nacional, da unidade dos angolanos", frisou.

"Pensamos que temos, de facto, de virar a página e olharmos para a frente. E não podemos olhar para a frente quando temos aspectos candentes que tocam directamente as vidas das famílias, as nossas vidas. Realizar actos como este é ultrapassar o que posso considerar obstáculos à verdadeira reconciliação nacional. Muitas vezes estamos a falar da reconciliação, temos discursos bons, mas, na prática, deixamos muita coisa para trás.

Penso que é importante e temos todos de reconhecer este passo", congratulou-se.

Samakuva lembrou que, no dia em que lhe foi comunicada a morte de "Ben Ben", Savimbi lhe telefonou a dar a notícia e pediu para que o corpo não fosse trasladado para Angola, uma vez que nunca teria uma cerimónia "digna".

"Esperemos até que um dia o Ben Ben regresse e seja enterrado com dignidade.

E ele (Savimbi) dizia: "podemos ser nós, ou outros". Ele já não é, mas outros, sim, estão aqui. Se eu reparo na importância e na dignidade que se está a dar ao acto, vejo que, afinal, Savimbi tinha razão. Certamente não teria esta dignidade naquela altura", terminou.

À chegada, os restos mortais de Arlindo Chenda Pena "Ben Ben" foram recebidos com honras militares por altas individualidades do Governo angolano, bem como pelo "Estado-Maior" da UNITA, altas patentes das Forças Armadas e a própria família.