Uma das mais pesadas heranças para a UNITA da guerra que terminou em 2002 é a transladação dos restos mortais do seu líder histórico e fundador, morto em combate, em Lucusse, Moxico, a 22 de Fevereiro desse mesmo ano, e sepultado na cidade de Luena, para a sua terra natal, no Bié, conforme o partido do "Galo Negro" exige desde o primeiro minuto após o fim das hostilidades.

Nos últimos dias, este processo observou vários momentos novos, tendo avançado decisivamente na terça-feira, depois de um encontro entre o líder da UNITA, Isaías Samakuva, e o Presidente da República, João Lourenço, que se prontificou a empenhar-se pessoalmente para concluir ainda este ano a exumação e a transladação do corpo de Savimbi, permitindo que a família e o seu partido possam realizar as tão exigidas cerimónias tradicionais fúnebres na terra onde nasceu.

Jonas Savimbi nasceu a 03 de Agosto de 1934, em Munhango, Bié, embora em diversas declarações de responsáveis da UNITA seja feita referência à vontade de devolver o seu corpo à sua origem, no Andulo, igualmente no Bié.

Preso mesmo estando morto

No passado dia 04, Samakuva, num discurso alusivo ao 84º aniversário de Jonas Savimbi, disse não haver "razão alguma para que o Estado angolano mantenha Jonas Malheiro Savimbi preso, mesmo depois de morto".

E questionou: "Porque é que os restos mortais de Jonas Savimbi foram capturados pelo Estado angolano? Porque é que se prende um morto?".

Foi depois destas frases duras proferidas por Isaías Samakuva que o Governo deu alguns passos de abertura, mostrando estar disponível para encontrar uma solução rápida e fechar este capítulo do conflito militar no país, sendo a exumação e a transladação do corpo de Savimbi o mais pesado legado dessa mesma guerra para o partido que fundou, embora não seja o único.

E, antes de o Presidente da República ter garantido que ainda este ano o assunto estará ultrapassado, podendo esse ser um dos maiores passos a caminho da total reconciliação nacional, como a UNITA tem defendido, foi o Ministério do Interior que veio a público mostrar que essa disponibilidade existe.

Culpa da UNITA por processo não ter sido concluído?

Depois de o presidente da UNITA, Isaías Samukava, ter acusado o Estado angolano de manter Jonas Savimbi preso, mesmo depois de morto - por não "libertar" os seus restos mortais para um funeral condigno - o Governo esclareceu que o processo de exumação e inumação dos restos mortais do histórico dirigente esbarrou no facto de a direcção do "Galo Negro" não ter remetido ao Governo os documentos solicitados.

Através de um comunicado divulgado esta segunda-feira, 13, o Ministério do Interior (MinInt) faz um ponto de situação do processo de exumação e inumação dos restos mortais de Jonas Savimbi, iniciado em Dezembro de 2014, em resposta às recentes declarações de Isaías Samakuva sobre o assunto.

O MinInt começa por esclarecer que é o interlocutor do Executivo para tratar deste dossiê - papel assumido por indicação do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos -, cabendo-lhe articular com a direcção da UNITA.

No âmbito deste processo, e já em 2015, o "Galo Negro" apresentou "um caderno de encargos sobre as exéquias do Dr. Jonas Savimbi, que previa actividades até ao primeiro trimestre de 2016", lê-se na nota da instituição tutelada por Ângelo da Veiga Tavares.

O conjunto de acções traçadas pela UNITA incluía a realização de "diligências no sentido de ser localizado o sítio onde foi enterrado o general (António) Dembo", meta que passaria pela apresentação de um "cidadão que dizia que conhecia o local", algo que segundo o MinInt "não aconteceu".

"Para a materialização do exposto, ficou acordado que a Direcção da UNITA endereçaria uma carta ao Ministério do Interior para a sua formalização e submissão ao Executivo, o que não aconteceu", reforça a instituição.

Apesar de sublinhar que o "Galo Negro" não enviou os documentos que se tinha comprometido a entregar, o MinInt garante que o Governo mantém a disponibilidade para resolver o assunto, indicação que transmitiu, por carta, ao presidente da UNITA.