Apesar das críticas da UNITA, CASA-CE, APN, PRS e FNLA, que se queixam de ter visto as suas bandeiras e restante material de propaganda eleitoral substituídos pelos estandartes e cartazes do MPLA, bem como da "injusta distribuição do tempo de antena", para os que tentam sobreviver do pequeno comércio no Bairro Ana N"gola, a campanha eleitoral pouca diferença parece fazer.

Que "tudo está bem", "equilibrado", quer quanto à distribuição de propaganda entre as seis forças políticas que concorrem ao acto eleitoral de 23 de Agosto, quer quanto à partilha do tempo de antena nas rádios e televisões.

Um barbeiro que não quis ser nomeado diz mesmo que a campanha não poderia estar a correr melhor, "sem confusões", e que "os partidos estão todos bem representados".

Um sapateiro recusou mesmo a abordagem, quando soube que o assunto era política.

É entre os jovens que encontramos as respostas mais directas e menos receosas. Para a estudante do ensino médio Márcia do Carmo, de 26 anos, que tem "acompanhado a campanha com muito interesse", ou não fosse ela militante do MPLA e fizesse parte da equipa que vai estar nas mesas de voto, não há críticas a fazer.

"O desempenho da maioria dos partidos é razoável, com excepção do do MPLA, que é "excelente", diz.

A volta pela cidade de Luanda permite verificar a superioridade numérica dos cartazes e do restante material de propaganda do MPLA. As grandes bandeiras vermelhas, pretas e amarelas destacam-se em todas as ruas percorridas.

O rosto de João Lourenço está em todo o lado, como que vigiando os potenciais eleitores que passam apressados ou vendem os seus produtos por entre o caos do trânsito da capital.

Algumas vezes, ao lado, o apontamento verde de uma bandeira da UNITA sobressai, mas raramente. As faixas da CASA-CE, da APN e do PRS quase se diluem entre a propaganda de monta do partido do Governo.

Mudança precisa-se

Rumamos a Maculusso e paramos num café frequentado por jovens universitários.

Bruno Liandro, de 22 anos, é estudante de recursos humanos. Segundo o jovem, que vai votar pela primeira vez, a campanha está a ser "mais abrangente".

"Há mais jovens a votar. O "M` está com uma campanha mais forte, mas é normal, porque é o partido que está no Governo e já tem a fidelização de mais pessoas", expõe, acrescentando que "falta visibilidade aos partidos da oposição".

Henrique André, de 23 anos, já não é estreante e vai votar pela segunda vez. Trabalhador-estudante, a frequentar o curso de Direito, considera que "a campanha está a ser interessante" e que "cada partido está a conseguir fazer passar a sua mensagem".

Militante do MPLA, não se coíbe de deixar algumas reflexões sobre o que considera estar mal no seu partido: "Se formos justos damos razão às pessoas que têm criticado, porque o MPLA tem mais tempo de antena do que os outros partidos, se passarmos pelas ruas vamos ver mais propaganda do MPLA do que das outras forças políticas, que continuam a ser ofuscadas". "Liberdade de expressão até agora não existe", comenta.

"O voto vai ser sempre para o partido que está no exercício do poder, toda a gente sabe que a vitória será do MPLA", afirma o estudante de direito.

Henrique André quer acreditar que João Lourenço vai fazer a mudança e que é tempo de renovação do partido em que milita.

"O que é que adianta reclamar mudança se não se fizer diferente?", pergunta.

Heide, de 26 anos, já não está a estudar. É prestador de serviços numa empresa e acha que "os partidos não têm a mesma visibilidade" e que "o "M`, enquanto partido do poder, já tem uma grande experiência de marketing político".

Apoiante do MPLA, acredita que a juventude está com o partido e que João Lourenço vai trazer a mudança.

"Saúde e educação são mesmo os pontos fracos de Angola. Acredito que ele vai mudar isso", diz.

Nilson Pereira, de 29 anos, é militar e estuda arquitectura. Apartidário, afirma que "é preciso dar a oportunidade a outros partidos para mostrarem o que valem".

"Para que o nosso País mude precisamos mesmo de alterar a ordem das coisas", declara.

"Este ano noto muitas diferenças, apesar de não contrariar a maior visibilidade do MPLA. Mas a CASA-CE está com muita força. A UNITA baixou um bocadinho, está mais fraca, mas os partidos da oposição estão a trabalhar mais e melhor", assegura.

"Há mais preocupação na apresentação de um programa eleitoral e mesmo o povo está mais vivo. Este ano vai mesmo ser diferente. As eleições têm de ser uma festa democrática, e que ganhe o melhor e que esse melhor faça mesmo o melhor pelo povo", afirma.

"Mudança precisa-se", defendem todos estes jovens, que fazem parte da primeira geração que não viveu a guerra, que durou 27 anos, e pode ser dividida em três períodos de grandes combates: 1975-1991, 1992-1994 e 1998-2002, alternados por frágeis períodos de paz.

Todos eles acreditam que vai acontecer, ganhe quem ganhar. Porque têm esperança num tempo novo, que lhes pertença.

Estas são as 4ªs eleições por voto directo e universal desde que Angola optou pelo multipartidarismo em 1991.

As eleições gerais de 23 de Agosto contam com seis forças políticas a disputar os 220 lugares no Parlamento e ainda a eleição do Presidente da República e do Vice-presidente, que são, respectivamente, o primeiro e o segundo nome das listas apresentadas pelo círculo nacional.

Vão estar na disputa pelos votos dos 9,3 milhões de eleitores, conforme o sorteio que ditou a disposição no boletim de voto, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que propõe Isaías Samakuva para Presidente da República, a Aliança Patriótica Nacional (APN), cujo cabeça de lista é Quintino Moreira, o Partido da Renovação Social, cuja aposta para a Presidência é Benedito Daniel, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que tem João Lourenço para substituir José Eduardo dos Santos na Cidade Alta, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com Lucas Ngonda a liderar a lista; e a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), que apresenta Abel Chivukuvuku para Chefe de Estado.

O círculo nacional elege 130 deputados e os círculos das 18 províncias elegem 90, cinco deputados por cada uma delas, contando a Comissão Nacional Eleitoral com 12 512 Assembleias de Voto reunindo um total de 25 873 Mesas de Voto.