A viagem começou "pela página no Facebook da Embaixada dos EUA" em Luanda. De frente para uma proposta de inscrição no Mandela Washington Fellowship, programa de bolsas de formação destinado a Jovens Líderes Africanos, Irene Sobrinho agarrou a oportunidade.

"O programa procura pessoas com fortes características de liderança, com uma ampla rede de conexões (dentro e fora do país) e ligadas a trabalhos voluntários", descreve ao Novo Jornal Online a luandense de 28 anos, uma de 53 jovens angolanos já seleccionados para beneficiar da bolsa Mandela Washington.

"Foi uma experiência incrível, nós dizíamos uns aos outros que fomos à América conhecer África", conta Irene, que de 15 de Junho a 4 de Agosto passado aprofundou a veia empreendedora, cívica e humanitária nos EUA, mais concretamente na Universidade de Nevada.

Este é um dos possíveis destinos norte-americanos à espera dos Jovens Líderes Africanos - mais conhecidos por YALI, sigla que abrevia a designação Young African Leaders Initiative.

O projecto, lançado na presidência de Barack Obama, abre todos os anos as portas de universidades dos EUA a cerca de 1.000 líderes africanos, dos 25 aos 35 anos e com fluência em inglês, para seis meses de formação em negócios e empreendedorismo, liderança cívica, e administração pública.

O desafio renova-se no próximo dia 13 de Setembro, com o arranque do calendário para 2018, iniciado pela recepção das candidaturas, processo que se estende até 11 de Outubro.

"Na inscrição tive a oportunidade de demonstrar as minhas qualidades, pelas redacções que apresentei, o que me permitiu chegar até à entrevista e convencer de que seria uma forte candidata", lembra Irene.

Escolhida para integrar o mais recente grupo de 18 jovens angolanos que embarcou no desafio americano, a luandense destaca o poder do intercâmbio.

"Conheci jovens de diversos países com grandes projectos, jovens empresários, líderes comunitários, mentes brilhantes e todos com uma forte vontade de ver África desenvolvida e unida".

O sonho africano, impulsionado à medida da mensagem que globalizou a popularidade de Barack Obama - Yes, We Can (Sim, Nós Podemos) - ganha contornos empresariais na história de Irene Sobrinho.

Co-fundadora da firma Entretenimento 360°, criada há pouco mais de um ano, a empreendedora assume a direcção de marketing do projecto, que tem como rosto mais visível uma revista online, publicada para fazer a diferença.

"Existem diversas ONG's em Luanda que organizam eventos de angariação e recolha de donativos para depois serem levados a alguns orfanatos, a hospitais e também a algumas comunidades carentes. Nós ajudamos, não só participando, mas também tornando o evento mais conhecido para que mais pessoas possam participar", explica Irene Sobrinho, revelando a personalidade cívica da Entretenimento 360°, desenvolvida como uma extensão da sua própria identidade.

A construção de uma Angola que acredita nos Angolanos

Licenciada em Engenharia de Petróleo e Gás Natural na Turquia, a luandense especializou-se na "construção de pontes humanas" a partir da faculdade.

"Fui responsável pela organização de vários eventos, como um festival internacional de comida, angariações de fundos para ajuda humanitária, palestras, partilha de documentários", recorda a engenheira que, ainda estudante, ocupou a vice-presidência para as actividades sociais da Society of Petroleum Engineering (Sociedade da Engenharia Petrolífera), e foi líder de equipa para o Comité de organização de eventos sociais da International Students Association (Associação de Estudantes Internacionais).

"Trabalhei com pessoas de diferentes países, raças e religiões em prol de tornar a nossa universidade mais unida e fazer com que as pessoas se divertissem juntas", acrescenta a ex-aluna da Orta Dogu Teknik Üniversitesi, igualmente conhecida como Universidade Técnica do Médio Oriente.

Com o bichinho da comunicação a "morder-lhe" para rumos profissionais alternativos - nas petrolíferas por onde passou também deixou o cunho de mobilizadora de grupos - Irene encontrou na crise uma oportunidade decisiva de mudança.

"A saída do sector petrolífero ocorreu em Maio de 2016 e no decorrer do mesmo ano comecei a exercer aquilo que antes fazia por pura diversão".

Apesar de se ter deparado com a "falta de apoio financeiro e de aconselhamento por parte daqueles mais experientes (mentores)", Irene não desistiu de empreender.

"Problemas continuamos a ter até hoje, mas é com eles que também temos vindo a aprender. Não tivemos acesso a crédito, investimos as nossas poupanças. É difícil gerir uma empresa, mas não é impossível", encoraja a co-fundadora da Entretenimento 360°, apologista do esforço de equipa.

"Quando se trabalha com um team que participa da visão da empresa e se revê nela as coisas ficam ligeiramente mais fáceis", garante, sem perder de vista a construção do sonho africano, promovida por Barack Obama.

"Os americanos também apreendem com vocês [jovens líderes africanos], na medida em que cada interacção convosco é uma oportunidade de ver uma África tantas vezes negligenciada pelos media - uma África que cresce, é inovadora e dinâmica", sublinhou, em 2014, o então Presidente dos EUA.

O entusiasmo por essa mudança promete continuar a guiar os passos de Irene, rumo à "sua" nova Angola. "Uma Angola próspera, que acredita nos Angolanos e que usa de todos os recursos disponíveis (incluídos os recursos humanos) para se tornar um país desenvolvido e forte, um país de eleição para se viver".